quarta-feira, 25 de abril de 2012

Porque muitos não sabem nem sonham, 25 de Abril, sempre!


Houve um dia em que se lutou por um país melhor. Houve um dia em que se lutou sem violência, com flores e com a mão dada ao outro que estava ao nosso lado, desconhecido e com orgulho de ser português.

Houve um dia em que tudo mudou porque tinha de mudar. Porque tinha de haver Liberdade. Pão. Educação. Porque isso não havia. Não havia e convém lembrar porque este país é feito de memória curta.

As mulheres não votavam. Sabiam? Eu tenho menos de 38 anos e sei. Voto desde que tenho idade para votar. Sou mulher e voto. É um direito adquirido e eu orgulho-me em dizer: nunca falhei quando o dever me chama a uma mesa de voto. Sem esperança nos últimos anos, é verdade. Mas eu vou. Porque foi esse o instrumento que me deram há 38 anos! 

Sabem o que é que também havia antes da Revolução? Censura! Sem esta liberdade não podíamos escrever o que queremos nem ler o que desejamos, hoje  ninguém me passa o lápis azul! 

E sabem que só existia um partido, a União Nacional e que todos os outros foram votados à ilegalidade? E que uma mulher casada não podia viajar para fora do país sem o consentimento do marido? E que, de uma forma absurda, não era permitido jogar às cartas nos comboios? Ou ainda pior e com consequências graves, três pessoas à conversa na rua era considerado um perigo? Pois, era um ajuntamento!

Se tudo ficou perfeito? Claro que não. Mas por isso é que eles começaram a revolução, nós temos de a continuar.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Falta-me o avô

O meu avô faz-me falta. Que me perdoem os outros que também fazem falta, mas há um que falta mais. Falta quando estou triste e quero um sorriso. Falta quando estou feliz porque quero um reconhecimento. Também falta quando tenho dúvidas pois a sua sabedoria sempre me deu as respostas certas.

Lembro-me de um desgosto amoroso, e das palavras sábias do meu avô perante a minha tristeza: "Ainda és nova, ainda vais ter muitos namorados, e melhores! Que te tratem bem." Isto dito por um homem da velha guarda, mas a modernidade é sempre necessária quando se conforta a neta num momento de sofrimento.

Tudo era simples. As respostas que ele me dava eram simples, embora por vezes eu colocasse as perguntas mais difíceis. Lembro-me de ser muito pequena e estar na rua com ele e perguntar: "onde estamos avô?" Ele dizia que estávamos na Praia Grande. E eu impaciente, dizia: "eu sei, não é isso! Estamos no Porto? Em Lisboa?" Ele lá explicou a geografia da coisa, da Praia Grande a Portugal. E depois quis o destino que eu estudasse Geografia.

Lembro-me de o ver no hospital depois de uma entrevista de emprego e de lhe dizer que ia começar a trabalhar "a sério". E lembro-me muito bem da cara dele, de orgulho, ali deitado. Quis a vida, matreira, que ele fosse chamado antes de eu começar noutras pegadas da vida que o teriam deixado orgulhoso. Quis a vida que ele abalasse antes que eu lhe pudesse perguntar sobre o futuro. Como acho que me vês pelos olhos do meu gato, eu pergunto na mesma, já as respostas... Deixaste-as em mim.

sábado, 21 de abril de 2012

Um mar de distância


Atravesso o Pacífico à tua procura. Apesar do nome do oceano, a serenidade não abunda. O sentimento de ansiedade é tão grande como a própria viagem. Busco-te. Atravesso o oceano, faço milhas náuticas para te ver. Houvesse dinheiro para aviões e eu voava para ti. Quanto mais perto estou, mais longe te sinto. E uma profunda solidão atravessa o meu peito.

As ondas batem no barco como o meu coração bate no peito, quer galgar até à garganta e deixa-me sem voz. Essa, aliás, transformou-se num murmúrio desde que foste embora. Tento gritar no convés, o palco da minha vida e não consigo. Afogo-me nas lágrimas com sabor a maresia e espero para ver terra. Nunca eu queria tanto ter o mar pelas costas.

Afundo-me com a âncora ao chegar ao porto. Procuro a tua cara e não te vejo. Milhares de caras passam por mim e não encontro a tua. O desespero avassalador quase me mata quando vejo que o tempo passa e que tu não estás lá. E agora aqui estou, na tua terra estranha, e não te vendo, percebo que nunca te tive.


quarta-feira, 18 de abril de 2012

Escrever avó

As letras fazem palavras que fazem frutos. Como uma árvore com ramos para cima, o meu papel avança para baixo. Linha após linha, a escrita floreia a minha paisagem, ondula ao vento das minhas vontades. Avanço ao sabor da estação que me rege no momento, seja o calor ou o frio.

Escrevo, reescrevo. Tomo nota. Risco. Saboreio o papel, o meu alimento. Viro a folha, escolho outra caneta. Apresso-me num vermelho de um tom que lembra o baton da minha avó. E vou por aí. A avó. Sim, era como uma árvore. Raizes fixas. Quem eras tu? Quanto de ti está em mim, o que me dizes de ti que sou eu? E ao ver-te, reparo que não usavas baton. Mas vejo a árvore, vejo a origem, o caminho, a dor e o desamor. E a força. Fica a força. E vai-se a vontade...

É esta a escrita que envolve a alma, avança, recua e leva-nos a passados que não existem. Imagens que não o eram. Palavras que não se traduzem em imagens. Fica a imaginação. Fica o tremor no dedo. É o deixar ir e não saber como se vai voltar...

Imagem: http://indulgy.com/post/XKCOyV3SF1/wall-hanging#/do/from/70955957588

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Et's


Estou com a nítida sensação de que não pertenço ao que me rodeia. Serei extra-terrestre ou serei livre?



quarta-feira, 11 de abril de 2012

Chocolate quente

Estes dias frios de primavera fazem-me lembrar chocolate quente e mantas. Ah e sofá! Mas tudo conjugado. Posso acrescentar um livro, um aquecedor e umas bolachinhas, só para enquadrar melhor a cena. Se for leite com café lembra a infância perdida entre canecas e copos de galão. Mas neste filme sou eu que faço o argumento, e para acompanhar fica mesmo bem o chocolate quente.

É todo o conforto que versa contra o frio da rua, se for perto de uma janela, tanto melhor, cortinas abertas. Completamos o cenário do exterior com umas árvores que dançam com o assobio do vento. São tontas estas árvores, o vento às vezes não é muito musical! Mas elas dançam, e de dentro de casa tudo parece bem.

Acrescentemos um gato. Em cima da manta, que está em cima de nós. Aquece os pés e aquece a alma. O livro também aquece a alma, preenche aqueles espaços entre aquelas coisas inúteis que guardamos na nossa mente.

E se depois disto tudo o chocolate está frio, o melhor é levantar e perder o tempo necessário, porque há coisas que merecem ser re-aquecidas!


Imagem: http://lua.weblog.com.pt/arquivo/cat_arte.html

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Dream on, America!


- A América fascina-me - dizia ela, pela voz e pelos olhos, de facto, os olhos brilhavam! - Deve ser dos filmes, - respondi eu! Afinal de contas estamos rodeados pela América, não é verdade?! - Não é nada disso! É claro que as imagens ajudam, mas eu queria sentir, entendes? Sentir a terra, o ambiente, as pessoas! O que sentes com os filmes não é real! - Fiquei pensativo.

Ela não sabia que eu sabia... Mas era um facto que eram os filmes que me levavam a sonhar. A caixinha de surpresas que é a televisão! Foi por isso que deixei de os ver. Se não eram reais, então porque é que provocavam, reacções, emoções reais em mim... Não quis mais. Zanguei-me. Zanguei-me com os meus sonhos. Com os meus profetas a cores e a preto e branco. Isolei-me da fantasia e mais tarde percebi que sem fantasia não anda o mundo. E empedrenida, percebi que tinha de fazer as pazes com a caixinha. E comigo também porque é bom deixar que o sentimento traga a emoção e que esta se enrole com a real veracidade do irreal que vem daquele rectângulo... O sonho, o real, a fantasia e as emoções, tudo embrulhado, um presente de Natal tardio para quem não gosta de surpresas!