quarta-feira, 18 de julho de 2012

O terapeuta, mestre da grande orquestra




Não sabia como explicar o que ia fazer. Então lembrei-me. O terapeuta é como um maestro que acompanha uma grande orquestra. Essa orquestra é composta por vários instrumentos que às vezes desafinam e a pessoa, essa orquestra, começa a destoar. A pessoa sente que algo está a soar mal mas a princípio não sabe qual dos instrumentos está desafinado. Existem tantas possibilidades. Alguns instrumentos nem parecem importantes, mas quando começam a destoar dos outros, mostram a sua importância.
Mas o maestro não afina os instrumentos. E também não diz directamente à orquestra qual é o elemento que precisa de mais atenção. Cabe à pessoa, grande orquestra, a percepção daquilo que a compõe. Cabe à pessoa saber que instrumentos existem nela, quais são os que desafinam e quais são os que, tal como recursos, permitem que os desafinados sigam o fio condutor.
Se calhar o maestro só dá aos braços. Ou então apenas mostra a sua presença e aponta discretamente com a sua batuta para alguns instrumentos mais indisciplinados. Mas no fim, caberá sempre à orquestra a auto-regulação, ou seja, a afinação completa para que todo o seu movimento seja de uma fluidez agradável ao ouvido…

terça-feira, 17 de julho de 2012

School of life

The school of life offers some difficult courses, but it is in the difficult class that one learns the most.

~ Corrie ten Boom

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Eu, esquizo-frenética, me assumo


Conclui que sou esquizo-frenética, o que não tem nada a ver com esquizofrenia. Antes de mais, ainda bem, até porque a esquizofrenia é uma doença grave, daquelas que ninguém quer ter, acreditem. Vamos por partes. Antes de mais o termo: esquizo ou esquizoide. No dicionário dizem que esquizo é um elemento que exprime divisão, desagregação. Já esquizoide remete para um estado mental de predisposição para a esquizofrenia.
No sítio onde estudo, e daí nasce a criação desta minha “palavra”, esquizoide remete para uma pessoa marcadamente mental. Uma pessoa que passa a vida ausente dos outros, vivendo dentro de si. É uma pessoa tendencialmente criativa, com muitas ideias e que vive nos seus pensamentos.
Como boa mescla que sou, é óbvio que sou um bocado esquizoide. Mas vai mais além. A última prova traduziu-se na tal caracterização de esquizo-frenético. Pois que, ao ler um livro cuja história não me agarre, esta bela-mente voa. E enquanto lê (efectivamente estou a ler, palavra após palavra), a bela-mente pensa no que vai fazer para almoçar amanhã e, ao mesmo tempo, vê imagens de qualquer coisa que viu sabe-se lá onde. E tudo isto sem nunca se desligar do que está à roda dela, observando e ouvindo todos os detalhes. Pensam vocês, essa bela-mente está louca, só pode. Pois está, o problema é que muitos de vocês se calhar reveem-se nesta descrição… Eu já desisti de ler livros que não me consigo envolver… Não por causa de mim, mas por causa da bela-mente.
Os pensamentos são frenéticos e velozes, as imagens também. Tudo é um relâmpago, as viagens são enormes e as ligações que faço fazem-me rir comigo mesma. Nunca vos aconteceu ver uma coisa, imaginem, ver uma formiga. Essa formiga faz-vos pensar na infância, aquele dia em que fizeram um passeio. Nesse dia foram passear com um avô. Pensar em avô, que é feito da minha prima? Ela vivia em Lisboa. Lisboa! Tenho de ver se vou encher o depósito do carro que amanhã tenho de lá ir. Bolas, deixei o carro mal estacionado! Não, espera, isso foi ontem. Hoje está bem, ficou ao lado do carro do vizinho do prédio ao lado, eu sabia o nome dele…
E é isto… mas em alta velocidade…
Sou então esquizo-frenética, e acreditem que estou em recuperação. Pode ser que um dia seja possível fundar um grupo de apoio aos esquizo-frenéticos. Apoio, sim, mas sem cura, que eu gosto de ser assim!
Imagem: http://insustentavelbelezadosseres.blogspot.pt/2010/11/grande-negociata-do-governo-com-os.html

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Lembranças



Encontrei esta foto numa rede social. E sei que já estive aqui. Bom, acho que estive aqui. Saltei dali do fundo para a água. E lembro-me de estar deitada na água, com as pedrinhas redondinhas debaixo de mim. Foi numa visita de estudo, foi isso. E o que fomos ver mais? Se calhar foi daquela vez em que também passamos em Évora e vimos o Templo de Diana do autocarro. E uns menires?

E eu levei fato de banho? Havia gente vestida... Engraçadas estas memórias que não estão cá, mas que viajam connosco. Não sabia que tinha estado ali até o ali me aparecer na forma de uma fotografia. Então, o que é real naquilo que sabemos num dado momento? Até onde vai a memória do inconsciente que carrega aquilo que não nos lembramos?

Foto de Ana Fabião, retirada de: http://www.facebook.com/#!/Pulo.do.Lobo

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Ciclos?


A conversa tinha começado como qualquer conversa começa nos tempos modernos: o tempo já não é o que era. O verão que não chega, o frio que se sente em Julho, enfim, os casos típicos. E, claro, o tempo passa rápido. Embora parecesse desinteressada, o coração dela estava aos saltos, podia senti-lo a vibrar de excitação. Não era para menos, o destino tinha sido bondoso. E então ela disse de forma muito triste: "Sabes, às vezes sinto medo por me sentir feliz. Porque sei que passa, que é temporário e que mais tarde ou mais cedo vou cair no abismo da tristeza." Estas palavras entraram em mim como uma onda e o barulho das ondas a rebentar na areia acabou por aumentar a dimensão da vaga. Não me defendi delas e também não o queria fazer. Embora pudesse melhorar o pessimismo que lhe corria no sangue, sabia que ela tinha razão. Sem grande força para a contrariar apenas disse: "Merda dos ciclos..." E sabíamos que não havia mais a acrescentar, por isso o silêncio tomou conta do ambiente e ela fingiu ter adormecido naquele sol frio de verão.


Imagem: http://www.umateladearco-irismargemsultejo2.blogspot.pt/

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Imaginando

"O céu estava fechado, um céu de Dezembro e o chão das ruas escondia-se debaixo da neve. Neve de Londres meio derretida e lamacenta."
"O Guinéu da Órfã" - Charles Dickens


E lá vou, vou a voar na imaginação e vejo o cenário, a neve lamacenta. Sinto o frio daquele Dezembro no algum calor deste Julho ventoso. Vou daqui para o norte, aterro em Londres e sinto tudo a acontecer à minha volta. Quis a minha imaginação ser assim. Leio as palavras e elas deixam de existir. Fundem-se nas imagens que crio, fixam-se em mim e eu danço com elas. Deixo de estar a ler um livro para viver uma história, abraçar as personagens e passear por outras épocas, sentindo outros pulsares, outras vidas e outras possibilidades. Ah mas nem todos os livros têm esse dom! Mas quando há uma raridade que o tem, eu sigo com ele até ao fim do mundo, e olhem que às vezes demoro a voltar.