quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Mudemos de assunto, sim?

Tenho um amor especial por letras de canções. Não todas, apenas aquelas que ressoam em mim. Não tenho como explicar. Temos a musicalidade, os instrumentos, a voz... E a letra! E quando tudo se combina como se tivesse sido feito no Olimpo, só pode ser um momento divino! Esta letra de Sérgio Godinho, como tantas outras, faz-me pensar em como é bom existir, viver com música.

Andas aí a partir corações
como quem parte um baralho de cartas
cartas de amor
escrevi-te eu tantas
às tantas, aos poucos
eu fui percebendo
às tantas eu lá fui tacteando
às cegas eu lá fui conseguindo
às cegas eu lá fui abrindo os olhos
E nos teus olhos como espelhos partidos
quis inventar uma outra narrativa
até que um ai me chegou aos ouvidos
e era só eu a vogar à deriva
e um animal sempre foge do fogo
e mal eu gritei: fogo!
mal eu gritei: água!
que morro de sede
achei-me encostado à parede
gritando: Livrai-me da sede!
e o mar intecro entrou na minha casa
E nos teus olhos inundados do mar
eu naveguei contra minha vontade
mas deixa lá, que este barco a viajar
há-de chegar à gare da sua cidade
e ao desembarque a terra será mais firme
há quem afirme
há quem assegure
que é depois da vida
que a gente encontra a paz prometida
por mim marquei-lhe encontro na vida
marquei-lhe encontro ao fim da tempestade
Da tempestade, o que se teve em comum
é aquilo que nos separa depois
e os barcos passam a ser um e um
onde uma vez quiseram quase ser dois
e a tempestade deixa o mar encrespado
por isso cuidado
mesmo muito cuidado
que é frágil o pano
que enfuna as velas do desengano
que nos empurra em novo oceano
frágil e resistente ao mesmo tempo
Mas isto é um canto
e não um lamento
já disse o que sinto
agora façamos o ponto
e mudemos de assunto
sim?

Letra de Sérgio Godinho

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Palavras, escrevo-te eu tantas


Justo quando achava que as palavras eram o caminho, elas sumiram. Esvaziei a cabeça. Olhei lá para dentro e não vi nada. Só vejo imagem, reflexos, temas genéricos. Vejo o cenário mas não escrevo a história. Roda o mundo devagar, ou depressa, e roda a saia da boneca que dança na minha cabeça. E gira, gira, gira... Saia de baile, ela ri, espalha a graça, sinto o riso, não tenho as palavras.

Assim fiquei nos últimos meses. Muitas outras palavras vieram, concretas, académicas, objectivas, acertadas. Ocuparam o espaço da subjectividade. E agora, essas palavras direitas, rectas, certas, estão a ir embora aos poucos. E aos poucos sobra espaço, espaço para a cor. Para o que não é certo mas pode ser, o que é redondo, indirecto... E sorrio. Porque existem palavras que são nossas. Podem adormecer durente um tempo, mas nunca nos abandonam.

Imagem: http://luciointhesky.wordpress.com/tag/rain-dos-beatles/

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Dar a mão, deixar a mão


Quando uma criança está a aprender a andar, não podemos esperar que ande sozinha se lhe estivermos a segurar na mão. Assim é o caminho da terapia. E é este o caminho que poderíamos tomar nas nossas vidas e, principalmente, nas relações que temos.

Parece-me idílica a imagem de ajudar alguém a aprender a andar de bicicleta: Vamos deixando a nossa mão nas costas do novo ciclista e retiramos no momento certo. No momento certo para que o atleta ainda sinta o medo e a sua conquista. No momento certo para que ele sinta a transição. Naquele momento chave em que sabe que está por sua conta, mas que ainda está alguém lá atrás quem, embora não o toque nem vá evitar uma queda, o vai ajudar a levantar. O problema é encontrar o momento certo para largar.

Parece-me que esta imagem é rara. Penso nas mães com medo que não largam o ciclista. Lembro-me dos pais "ocupados" com outras tarefas e que não podem dar uma mão. E recordo que existem pessoas que não sabem viver sem esta mão dada.

E esta bicicleta ou estes passos, são a vida. E saber quando nos devemos afastar para que o outro aprenda a viver é fundamental. E difícil. Porque nestes momentos pensamos na mão que queríamos ter nas nossas costas.

Imagem: http://mattewnobre.blogspot.pt/2010/12/aprender-andar-e-o-primeiro-passo-dar.html

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Mortes e fantasmas



Sim, é certo que a morte deve ser respeitada, principalmente tendo em consideração a família e amigos dos falecidos, pois esses ficam, ouvem e leem o que não querem. Não rejubilo a morte de quem não gosto, mas respeito-a em todas as situações. No entanto, seguindo o ideal de “nem tanto ao mar, nem tanto à terra”, não acho que uma pessoa, só porque morre, vira santa, anjo ou coisa que o valha. E isto é de facto uma atitude muito comum nas aldeias. Ora, como em tempo de crise o país encolheu para este estatuto de "aldeia", parece que tudo o que morre merece estátua.

A morte é um momento de dor para quem a assiste de perto. É algo de desconhecido para quem vai de barco para atravessar esse rio de mistério, em que não sabemos onde vamos desaguar. É algo que sabemos que vai acontecer mais tarde ou mais cedo, a nós e aos que nos acompanham, mas é um tema que escondemos debaixo da cama, atrás de uns caixotes de sapatos, que é para não incomodar muito. Ali ganha cotão, é certo, mas longe da vista, longe do coração.

Voltando à premissa dos mortos virarem santos, não sei se não dizem mal dos mortos com medo que venham em formato fantasma. “Era bom rapaz”, diz uma velhinha sobre o pilha-galinhas da aldeia, atropelado por um tractor enquanto fugia com o seu galo capão (o maior e mais lindo lá do sítio, digno de prémios numa Ovibeja… Lá do sítio). Será que ela tem medo que ele a assombre durante a noite, puxando o canto a um cobertor?

Não vou dizer perentoriamente que não acredito em fantasmas, mas acredito que esses tipos teriam outras prioridades, caso voltassem depois mortos para arreliar as pessoas. Assim sendo, e sem ter em conta a teoria do fantasma, não percebo porque se santifica alguém desconhecido. Não sabemos, aliás, quando o destino de quem parte, embora existam as mais diversas opções, tantas quantas religiões.

Melhor, melhor, seria que todos fossemos santificados ao morrer, mas por motivos nobres e correctos, e assim saberiamos que estavamos a deixar um mundo terreno melhor... Mas isso são outros quinhentos e o que interessa é viver no 8 e no 80: ou se mata o morto, ou se santifica o coitado!

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Pooh, que simplesmente é


 Existe um livro maravilhoso chamado "O Tao do Pooh". Já o li há muito tempo, bem antes das novas andanças terapêuticas. É do autor Benjamin Hoff e pode ser encontrado em Portugal através da Editora Sinais de Fogo.

Não vou desvendar muito do livro, até porque o terei de ler novamente, à luz de uma nova consciência, mas se têm interesse em temas onde a filosofia de vida se encontra com a clareza das palavras e das explicações, então recomendo.

Na contra-capa lê-se: "Enquanto o Igor se arrelia, e o Leitão hesita, e a Coruja pontifica, e o Trigue balança, o Pooh simplesmente é."

Fonte desconhecida

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Estacionamentos


Vivíamos num bairro onde o estacionamento era parco, tal como em toda a cidade. A luta por um lugar era vivida como se os condutores fossem gladiadores no meio de uma arena. Só não existiam leões, nem se fazia a diferenciação entre religiões. Mas nós éramos uns sortudos: tínhamos lugar de garagem! Não era o melhor lugar de garagem do mundo, mas o calhambeque dos anos noventa que ambos partilhávamos, cabia muito bem.

Um dia ele chegou no carro e estacionou na rua: era cedo, havia um lugar vago e ainda íamos sair. Assim não era necessário entrar na garagem e fazer manobras com um volante mais difícil de virar que o dos carrinhos de choque que antes estavam lá perto, na feira popular! Era o ideal quando o calhambeque ainda ia ser requisitado ao final do dia.

Conversa puxa conversa e o sofá ficou mais confortável, adiando os planos de saída. Decidimos ficar em casa. E nesse momento de decisão, ele levantou-se e ouvi o barulho de chaves: "onde vais?", perguntei. Ele disse que ia colocar o carro na garagem. Achei tonto, para quê ter esse trabalho? No alto da sua generosidade ele respondeu: "vai haver uma pobre alma que vai ficar muito grata por encontrar um lugar perto de casa a estas horas da noite, tenho a certeza!". Eu percebi-o, mas como era mais ingrata com a vida, disse-lhe: "E se for uma pessoa que não merece o lugar? Já viste, se for uma pessoa má, zangada com o mundo?". Ele disse, com a mesma generosidade de sempre: "hoje ele encontrará um lugar, mas um dia vai perceber que nem sempre existem lugares disponíveis."

Imagem: http://mundoalice.wordpress.com/2011/02/24/nao-gosto-de-falta-de-civismo/estacionamento-lotado8/

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Segunda-feira

Está a começar uma semana que vai passar devagar e depressa. Têm sido todas assim. Mas eu não me vou focar nisso. Vou-me focar em passá-la bem e em estar presente em cada momento, respirando-o. Segunda-feira é tradição: é dia de desprezar as horas que não passam, maldizer o que se tem-de-fazer e segurar os freios da personalidade. É estar ciente de que se vão repetir 5 dias quase iguais. Vamos acordar 5 dias cedo e vamos estar fora da nossa casa durante as horas deste desconforto. Mais do que isso, vamos estar fora dos nossos horários. Fora daquilo que queremos ser, por imposição daquilo que é externo e daquilo que é exigido por nós.

Mas esta Segunda-feira foi diferente. Nesta Segunda-feira que começou sendo de nevoeiro e Sol, vi a divisão entre aquilo que me afecta porque eu deixo, e aquilo que me rodeia e que eu não permito que me invada. Então, afastei carinhosamente o nevoeiro e pensei: não me vou deixar afectar. Vou respirar, centrar e permitir o contacto comigo. E depois cheguei ao meu dever e vi isto:

"Live your daily live in a way that you never lose yourself. When you are carried away with your worries, fears, cravings, anger, and desire, you run from yourself and you lose yourself. The practice is always to go back to onelself" ~ Thich Nhat Hanh

Boa Segunda-feira, oh Universo!

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Introvertidos?


Como diria o Forrest Gump: "And that's all i have to say about that!"

Fonte desconhecida

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Honras

Sexta-feira: estou ainda chateada com algo que começou a acontecer na Segunda-feira. Pois é, parece que 5 dias passados não fizeram nada para melhorar a situação. Sem grandes explicações - porque não vale a pena bater no ceguinho - faltaram-me à palavra. Combinei uma coisa, neste caso uma compra, que me saiu gorada porque possivelmente não tinha tanto pedigree como o comboio que me atropelou e efectivou a compra depois da minha pré-reserva. Não me lixa o bem material (já me resolvi por outro lado), lixa-me a falta de palavra.

Bem sei que isto de dar a palavra, ou aquilo que é honrar um compromisso, é algo que está nas ruas da amargura por todo este mapa português, mas ainda assim, consigo ficar mesmo genuinamente chateada porque a palavra já não é o que era. É certo que sou nova e que isto da honra parece do século passado. Não sou do tempo dos duelos nem dos crimes legais por atentado à honra, mas acredito que a nossa palavra num compromisso deve valer a peso de ouro. A honra deveria de ser hiper-hipster-trendy.

Não estou a falar de combinações mesquinhas do ir beber café e não ir ou coisa que o valha. Estou a falar de coisas combinadas entre duas pessoas tendo como base a confiança entre essas mesmas pessoas. Se não conheço bem a pessoa, não sei o preço da sua palavra. Neste caso custou-me saber que alguém que estimava se vendeu com tanta facilidade, permitindo que eu fosse consumida pelo consumismo dos outros. E se eu confio na pessoa, eu acredito na palavra que se estabelece entre os dois. "Combinação". Se a palavra fica muda e caída entre um fim-de-semana, que poderei dizer da confiança pré-estabelecida? Esfumou-se.


Claro que, fazendo um exercício mais terapêutico, devo procurar em mim o motivo de ter ficado deveras arreliada com tudo isto. É fácil: senti-me transparente, muda, espezinhada e não fui tida em consideração. E mais: acredito que a situação se despoletou pelo facto de ser a pessoa que - nesta situação e aparentemente - está no nível mais baixo desta cadeia alimentar. Tudo isto me deixa frustrada e me aperta a garganta.

Mas sim, tudo é um desígnio do universo, energia, como lhe quiserem chamar. E sei que desde que esta situação se instalou que tenho aprendido ainda mais sobre mim e sobre as pessoas à minha volta. Resta agora fazer o rescaldo, que é como quem diz, dar amor a tudo isto.

Imagem: http://www.frasesmais.com/quando-a-honra-de-um-homem-e-inatacavel.aspx

quinta-feira, 11 de julho de 2013

A cat is a cat!


From 'The Ad-Dressing of Cats' by T. S. Eliot

THE AD-DRESSING OF CATS

You’ve read of several kinds of Cat,
And my opinion now is that
You should need no interpreter
To understand their character.
You now have learned enough to see
That Cats are much like you and me
And other people whom we find
Possessed of various types of mind.
For some are sane and some are mad
And some are good and some are bad
And some are better, some are worse –
But all may be described in verse.
You’ve seen them both at work and games,
And learnt about their proper names,
Their habits and their habitat:
But

How would you ad-dress a Cat?
So first, your memory I’ll jog,
And say: A CAT IS NOT A DOG.

Now Dogs pretend they like to fight;
They often bark, more seldom bite;
But yet a Dog is, on the whole,
What you would call a simple soul.
Of course I’m not including Pekes,
And such fantastic canine freaks.
The usual Dog about the Town
Is much inclined to play the clown,
And far from showing too much pride
Is frequently undignified.
He’s very easily taken in –
Just chuck him underneath the chin
Or slap his back or shake his paw,
And he will gambol and guffaw.
He’s such an easy-going lout,
He’ll answer any hail or shout.

Again I must remind you that
A Dog’s a Dog — A CAT’S A CAT.

With Cats, some say, one rule is true:
Don’t speak till you are spoken to.
Myself, I do not hold with that -
I say, you should ad-dress a Cat.
But always keep in mind that he
Resents familiarity.
I bow, and taking off my hat,
Ad-dress him in this form: O CAT!
But if he is the Cat next door,
Whom I have often met before
(He comes to see me in my flat)
I greet him with an OOPSA CAT!
I’ve heard them call him James Buz-James –
But we’ve not got so far as names.
Before a Cat will condescend
To treat you as a trusted friend,
Some little token of esteem
Is needed, like a dish of cream;
And you might now and then supply
Some caviare, or Strassburg Pie,
Some potted grouse, or salmon paste –
He’s sure to have his personal taste.
(I know a Cat, who makes a habit
Of eating nothing else but rabbit,
And when he’s finished, licks his paws
So’s not to waste the onion sauce.)
A Cat’s entitled to expect
These evidences of respect.
And so in time you reach your aim,
And finally call him by his NAME.

So this is this, and that is that:
And there’s how you AD-DRESS A CAT.
 
Retirado de: http://www.brainpickings.org/index.php/2013/03/14/best-cat-stories-1953-t-s-eliot/?utm_source=buffer&utm_campaign=Buffer&utm_content=buffer229c6&utm_medium=twitter

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Less is more and more is best


Gosto muito da frase "less is more" Já referi isso aqui, mas sem grande desenvolvimento. Resumindo e não baralhando, less is more quando estamos a ficar perdidos na nossa neurose. Menos é mais porque por vezes o silêncio e o não fazer nos traz mais frutos. E mais frutos é muito bom, nada less. Less is more porque não atiça a fogueira do incêndio interno que por vezes nos consome. Less é a água que vem abrandar as labaredas e resfriar a temperatura.

Less is more but not good, quando nos agarramos a isso para não fazer nada, não dar passos em frente e ficar na bolha (que é como quem diz, ficar no conforto de não fazer nada). Ou seja, como em tudo, é necessário encontrar um equilibrio e entender de forma consciente quando é que é necessário parar e quando é que é necessário agir (como agir são outros five hundreds). De qualquer forma, sinto que saber encontrar este equilibrio é a chave para outros equilibrios da vida. E por vezes está tão longe que parece coisa de Buda...

domingo, 7 de julho de 2013

Frase para um Domingo


Imagem: http://www.facebook.com/photo.php?fbid=398140366957716&set=a.162734817164940.27911.129370207168068&type=1&relevant_count=1&ref=nf

sábado, 6 de julho de 2013

Metronomices

Conhecem aquele objecto que serve para não perder o ritmo na música? Pois bem, a evolução pessoal é como o metrónomo. No início estamos lá em cima, tudo abana, os altos e baixos são muitos e exasperamos por uma estabilidade. Quando já nos entendemos melhor, os altos e baixos têm uma amplitude menor e o ponteiro abana menos. Encontramos o nosso ritmo na vida. Onde estamos nós neste metrónomo? E as diferentes áreas da nossa vida, certamente que estarão em sítios diferentes do pêndulo. Quais são as que mexem mais e quais são as mais estáveis? E será que existem mudanças? Será a nossa vida demasiado metronómica?

De facto, olhando para um metrónomo em funcionamento, é fácil fazer a correlação com os movimentos da vida. O que acredito é que, nesta longa caminhada, nada volta a ser como no topo, em que as amplitudes nos deixam devastados.

Também podemos olhar para o metrónomo e reflectir sobre o que queremos ampliar na nossa vida. O que é que tem sido insuficiente e precisa expandir? E que lado nosso necessita de mais paz e de menos abanões? Entender o nosso ritmo de vida é um passo para maiores entendimentos e uma ponte para novos caminhos. Resta saber qual o ritmo do passo.

Imagem: http://ipemsp.wordpress.com/2010/11/01/para-nao-perder-o-ritmo-micrometro/

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Psicologia instantânea - parte 2


No seguimento do post anterior, sobre psicologia instantânea, cabe-me acrescentar que é uma pena que não existam comprimidos mágicos. De facto, numa sociedade a 100 à hora, onde se quer tudo para ontem e com uma perfeição imaculada, nada como um comprimido para a insónia, outro para a diminuição da libido e outro para uma pequena depressão. Um comprimido all-in-one era a descoberta do século. Este all-in-one seria tão bom que mal caísse no estômago iria perguntar "o que precisas?". Se fosse para estar bem-disposto soltava umas florzinhas, se fosse para dar sono, uns carneirinhos. Se virem unicórnios, foi porque pediram para delirar.

Todos querem pressa. Querem fazer terapia: "então quanto tempo vai durar? Como não sabem! Uma vez por semana durante sabe-se-lá-quanto-tempo?? Inadmissível. Eu não tenho tanto tempo para olhar para mim e para as minhas fragilidades, tenham dó! Não há um exercício que eu possa fazer, ou melhor, um comprimido para tomar?"

Não. Não há nada disso. Lamentamos! Mas percebam que passaram 30, 40, 50 anos de uma determinada forma, a construir aquilo que são hoje, com tudo aquilo que viveram, com o acumular de tantas coisas que hoje vos caracterizam... Sim, é preciso tempo para ir descascando as camadas que foram vestindo desde que nasceram. É preciso olhar, pensar, ver, sentir, agir... Reestruturar, reconstruir... É como uma casa a precisar de muitas, muitas obras. Preferem um arranjo superficial de 2 dias ou ir até às fundações?

Claro que também há a parte da responsabilização. Pois, não existem super homens que chegam no ar para nos salvar e levar para o lúdico mundo da felicidade eterna. Não existe um livro que nos vai dar a frase certa, qual ponte que atravessamos para chegar a um outro lado completamente diferente. Um livro mudou a sua vida? Parabéns, você é uma raridade! Perguntar ao exterior como nos resolvemos é o mesmo que nos sentarmos para fazer um exame e perguntar ao professor quais são as respostas. Primeiro: ele não as vai dar. Segundo, se as der, são as dele...

Nota: Nesta perspectiva, o café fica em grão, ainda menos instantâneo que o anterior...

Imagem: http://www.colegioweb.com.br/saude/beneficios-do-cafe-para-a-saude.html

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Psicologia instantânea


Infelizmente e para muitas pessoas, o café não é psicologia suficiente. Nem algumas dicas mais indirectas, é certo, chegam para a pessoa em questão "acordar". Podemos até pensar, não é nosso dever, não está na nossa mão. E sim, na maior parte das vezes não está. Cada pessoa tem o seu processo e demora o seu tempo a destapar os olhos. E depois mais um tanto a tirar as palas. E mais um tanto a perceber que tem visão periférica. E outro tanto para perceber que tem um pescoço. E magia, consegue ter uma visão completa. O problema é se, depois disto tudo, a pessoa insiste em manter os olhos fechados.

No entanto, o meu problema não é só o de respeitar o tempo dos outros. My bad. Mas não sou Buda e estou em eterna aprendizagem. Tenho o problema de ter alguma sinceridade. E principalmente, de fazer as coisas com sinceridade. E quando pensamos que as pessoas à nossa volta o vão apreciar, vemos que preferem viver na ilusão, na mentira. As pessoas preferem o cinismo. Preferem que seja dito um "gosto muito de ti" disfarçado, do que um "não acho que temos muito a ver um com o outro". A maior parte das pessoas à nossa volta não está preparada para a realidade de sentimentos de cada um de nós. A sociedade e a educação ensinou-nos a deixar isso para nós e principalmente a direccionar aquilo que pensamos de cada um para aquelas conversas de beira de esquina em que, como numa purga, vomitamos indecências sobre várias indigestões da nossa vida. Mas, melhor que isso é, com conta-peso-e-medida, ser honesto. o problema é que ser honesto também dá a volta ao estômago e aí não temos outra solução que não seja a de tomar um Kompensan...

Portanto, isto vem contradizer aquilo que eu pensava sobre o crescimento: que acabavam os dramas. Não terminam, de modo algum, apenas mudam de forma porque muitos de nós não deixámos de ser adolescentes... E pior do que isto é poderem pensar: "aconteceu um evento que a fez escrever este texto". Não, têm vindo a acontecer muitos destes eventos, e com várias pessoas. É assim o universo, a vida, a energia, como lhe quiserem chamar. A minha maior conclusão é que Eu não posso deixar de ser Eu. Poderei sim, amenizar a minha forma de lidar com as pessoas, adaptar-me, flexibilizar-me. Isso é crescer.

Imagem: fonte desconhecida

terça-feira, 2 de julho de 2013

Love myself


Existem frases que parecem clichés, mas esta é bem verdade: para amarmos a pessoa ao nosso lado, temos de nos amar a nós mesmos.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Crescer é ficar confortável


Dou por mim a fazer coisas de forma diferente. Pode parecer estranho, mas este conceito surgiu quando hoje quis ir à casa-de-banho num centro comercial. Pensei: caramba, agora quando quero ir à casa-de-banho, vou logo. Antigamente se fosse preciso passava um concerto inteiro em pé, aflita para não perder tempo nem espaço.

Também na praia vejo as diferenças. Quando era pequena não existiam protectores e quando me tornei adolescente, apesar de já existirem, não era algo que alguém levava para a praia. Nem o chapéu. Ou um lanche reforçado. Ou o produto para o cabelo para usar depois daquele mergulho calmo no mar. Não. Naquela altura interessava ir, não interessava muito o desconforto da pele no final do dia. Também não importava muito ter fome durante mais uma ou outra hora, comia-se depois. Um gelado talvez! Areia? Ia toda para casa, qual quê agora ir passar por água doce. Aliás, nem existiam duches nas praias. Nem casas-de-banho.

Acredito que crescer nos torna mais sábios e isso implica procurar o conforto. Dormir mais, beber mais água ou tisanas especiais. Explorar os cremes, os protectores e os hidratantes. Procurar o calor quando temos frio e procurar o frio quando temos calor. Já não saimos de mini-saia no Inverno. Já não queremos morrer de calor enquanto assamos ao sol na praia. Não queremos ficar desconfortáveis. Crescer traz outra necessidade suprema: o conforto. Levamos a cadeirinha para a praia e sabe bem encontrar uma sombra e beber uma água fresca. E sabe bem ir com calma a uma casa-de-banho, sem risinhos de correrias porque senão...

Imagem: http://thefuturebuzz.com/2009/03/09/inspirational-images/

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Flores!

Eu até ia bem, metido na minha vida, quando ouvi, assim de fininho, "Hey! Já cheiraste as flores hoje?" Mas quais flores?? - resmunguei comigo mesmo. Neste chão cinza que só falta é chorar, querem flores aonde? Devem pensar que só porque existem uns canteiros mal regados na cidade que isso faz um jardim! Não faz não! "Já cheiraste as flores?" Mau! Malvada voz... Não vê que não existem flores aqui!!!!




Imagem: http://www.123rf.com/photo_2319778_an-enchanted-man-with-flowers-inside-his-head.html

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Palavras são armas

Fazem-se juízos de valor sem conhecimento de causa. Fala-se do outro sem se saber. Fala-se do outro sem o outro ouvir. Determinam-se, sobre a vida do outro, origens, causas e culpas. Faz-se o auto e assinam-se sentenças. Cada um à sua moda, cada um com a sua crença. Mas a crença do outro não importa. Importa sim, a de cada um, quando esse cada um fala de cada outro. Maltrata-se o outro em palavras e constroem-se dicotomias, pois quem fala não vê que no fundo fala de si. Sugerem-se resoluções, soluções disparatadas como deitar água na areia do deserto e esperar que algo brote. Criticam-se métodos, mas não os de quem fala. Quem fala diz ter sabedoria, mas é surdo porque não ouve que o que fala, fala para si. É cego, porque não vê o espelho do outro à sua frente, que reflecte a sua imagem. Antes fosse mudo, para não dizer o que não deve.


Fala-se muito, demais. E quem fala não percebe que as palavras são armas. São instaladores de traumas, de tristezas e de dúvidas. E embora essas palavras não tenham efeito no imediato, elas ficam na pessoa que as ouve. Se não as souber transformar, essas palavras vão ser dilacerantes e vão ganhar poder com o tempo. Palavras ou actos são poder na ponta da língua ou na ponta dos dedos.

Não teçam tapetes se não sabem manusear o tear. Não falem do que não sabem. Dêem espaço aos outros para serem quem são. Permitam que os vossos amigos caiam para que possam aprender a melhor forma de voltar a estar de pé. Sejam assertivos, digam o essencial, apontem a luz, não o caminho.

Se eu sou inocente? Não. Gosto de emitir opiniões. Mas cada vez mais vejo a diferença entre dar uma luz ou dar uma opinião. A luz brilha, a opinião não. Uma mera indicação ajuda a pessoa a pensar, uma direcção, como uma seta, obriga a movimentos para os quais a pessoa pode não estar preparada. E uma luz que ajuda a pensar, ajudará a pessoa a pensar na sua própria perspectiva, e não pelos olhos de quem está por perto. Dar uma luz é apostar na potencialidade da pessoa. Dar uma luz é promover a liberdade e respeitar quem nos procura ou quem está por perto. É como dar à luz, é deixar a vida sair de nós e ser independente. E se pensam que estas situações acontecem com quem está na periferia imediata de cada um, enganem-se. É no centro, na familia, que mais palavras são disparadas e acertam em cheio no coração.

Imagem: http://serapossivel.com/quantas-palavras-diz-em-media/

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Ses


Se eu ficar a pensar no que falta, vou perder aquilo que tenho.
Se pensar no amanhã, perco o dia de hoje.
Se me perco nas amarguras do passado, esqueço-me de que não o posso mudar.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Um caso de pontuação

Quando nos pomos nestas coisas de consciência pessoal e evolução temos etapas que têm apenas a ver com pontuação:

1ª Fase: Não sei quais são as perguntas e muito menos as respostas. Existem muitas reticências e poucas palavras acertadas.
2ª Fase: Tenho alguma ideia das perguntas, mas estas ainda são confusas, não faço ideia quais são as respostas ou onde encontrá-las. Permanecem vírgulas, reticências e pontos e vírgulas.
3ª Fase: Começo a ter uma ideia sobre as perguntas, os pontos de interrogação têm força. No meio das perguntas ainda há alguma objectividade que não encontra resposta na subjectividade da vida. As respostas surgem tímidas e algumas não têm nexo nem forma.
4ª Fase: As perguntas são construídas, pertinentes e geram respostas fluídas e com nexo. Com as respostas vamos construindo novas frases.
5ª Fase: As perguntas geram respostas, mas as respostas geram mais perguntas. É um ciclo que ainda estranho, mas que percepciono como necessário.
6ª Fase: Escrevo um livro, vivo uma vida.

Imagem: http://clicareaprender.blogs.sapo.pt/4980.html

terça-feira, 16 de abril de 2013

Mudar a forma

Quando damos forma às coisas, elas mudam de forma. O que acontece é que, quando damos conta de algo, isso muda-nos e a "coisa" em si também muda. Vamos por partes e vamos por exemplos. O corpo dá um sinal. Refila connosco! E nós não sabemos porquê. Tentamos perceber o motivo. Pensamos, e pensamos; sentimos, e pensamos outra vez... E por fim, normalmente quando não estamos de facto a pensar, plim! Surge a resposta.

A resposta surge sem pensar (muito?). É algo que vem encadeado na nossa cabeça, ou melhor, no nosso ser! É algo subtil que ganha forma aos poucos e às vezes é nomeado de insight ou ponte. E no fim temos então algo, um produto de um processo de pensar -> sentir -> não pensar. E quando temos essa resposta, essa forma, esse produto, algo muda; e então, muda de forma, pois não é mais necessária a forma inicial. Não é mais necessário o alerta que o corpo faz, não é mais preocupante o sintoma, pois temos a origem da "coisa".

Mudar de forma também implica o seguinte: encontramos uma resposta, mas encontramos mais questões. E assim prossegue a vida, de resposta em questões e por aí fora. Encontrar uma resposta não é o fim do puzzle, é a adição de mais peças para ir encaixando. É como se passássemos de nível mas sem terminar o jogo: ganhamos créditos para o nível seguinte. E lá vamos nós de nível em nível. E caramba, há uns quantos bem difíceis. E o problema é que, justamente quando estávamos preparados (ou achávamos que...) para os níveis seguintes, já com uma elevada taxa de basófia, mudam os comandos do jogo! E nós, que considerávamos que já tínhamos uma bagagem considerável, escorregamos logo na primeira dificuldade. E a vida é isto. É ir mudando a forma, passar de nível e não esperar facilidades. E a evolução é esperar as dificuldades com tranquilidade e um sorriso.

Imagem: http://loja.publico.pt/products.php?product=Formas-de-Natal-Bimby%E2%80%93Forma-silicone-bombons-formato-cora%C3%A7%C3%A3o

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Lógica

Tropecei numa foto da Yoko Ono. E já tinha tropeçado nisto:


E continuo a não conseguir imaginar o que é para uma mulher estar ao lado do seu marido que é assassinado. Morto por um desconhecido. Por nada. Por motivo algum. Continuo a não perceber como é que alguém dispara sem sentido (Se é que existe disparar com sentido?). Confunde-me. Questiono-me com situações destas. Comove-me que ela tenha escolhido ficar na mesma casa onde viviam, passando todos os dias pelo local onde o perdeu. Intriga-me que ela tenha mantido aqueles óculos ensanguentados na sua solidão. Espanta-me que os Estados Unidos continuem a ceder a um lobby que mata crianças. Que não sejam capazes de criar uma lei simples. Uma lei que não permite que levem familiares de pessoas que os querem cá. Egoísta? Não, lógico.

Foto: http://expresso.sapo.pt/yoko-ono-mostra-no-twitter-oculos-com-que-lennon-morreu=f795156

terça-feira, 2 de abril de 2013

Conhecer


Olhando para trás no tempo, vejo que não conheci bem nenhum colega de faculdade. Esse tempo foi estranho, rápido e doloroso. Hoje vejo-os pelas redes sociais sem saber bem o que ali fazem. E lendo o escrevem, não os conheço e nem os conheci. E daí vem o pensamento seguinte: conheciam-me a mim? Não. Nem eu me conhecia. Então, saberiam eles quem eram e no que se iriam tornar?

É incrível como nos achamos sempre na idade certa para saber tudo, mas com o passar do tempo vemos que afinal não, na idade seguinte é que é. Mas é no momento presente que nos achamos muito sabidos. Inconscientemente sabemos que amanhã vamos saber mais. Assim sendo, como poderia ser a mesma pessoa de há 10 anos, quando terminei o meu curso? Não sou essa pessoa, mas também não deixo de a ser. Confuso? Sou parte daquilo que era, pois sei que hoje sou mais. É como aquela ideia de que apenas usamos 10% da capacidade do nosso cérebro. Eu era 20%. Conhecia 20% de mim e nem sabia que havia mais do que apenas um grande ponto de interrogação que não incomodava tanto. Agora talvez seja 40%. Ainda há mais de metade de mim por conhecer, espaço vago, escuro e misterioso. Somos um segredo encerrados em nós mesmos. Gosto disso!

Foto: http://novotempo.com/radio/2012/09/19/breve-ensaio-sobre-a-ansiedade/

quinta-feira, 28 de março de 2013

Grandiosidade





A grandiosidade dos grandes sítios não se vê, sente-se. Respira-se.

Imagem: http://www.theatlantic.com/infocus/2012/04/historic-photos-from-the-nyc-municipal-archives/100286/

terça-feira, 26 de março de 2013

Músicas


Hoje acordei com uma música:
"Quando a cabeça não tem juízo
Quando te esforças mais do que é preciso
O corpo é que paga"
O Variações tem destas coisas, ao lembrar uma música de manhã, já sabemos que nos vai acompanhar o dia todo. Agora que leram uma parte, digam lá se não estão já no “deixa-o pagar, deixa-o pagar”?
Para além de a letra martelar a cada minuto na minha cabeça, num looping desgraçado, o significado das palavras dança em mim. Este bocado de cantiga faz lembrar a psicossomatização. Parece que o Variações já percebia de psicoterapia corporal naqueles tempos. De facto, está comprovado que a mente tem uma força muito grande no que concerne às doenças. E a psicossomatização é isso: é a influência do nosso lado psíquico no nosso corpo, no nosso lado físico. Um conflito que mora na nossa mente acaba por afectar negativamente o nosso corpo. Daí se dizer que muitas das doenças têm origem na nossa cabeça. E quando a cabeça não tem juízo…
Qual artista do consultório, o Variações (que variava tanto no seu exterior) escreveu grandes verdades na psicoterapia, e não foi só nesta música que vos coloquei gentilmente na cabeça.
Como é que o “mudar de vida se tu não vives satisfeito” não é um mote à mudança, à evolução pessoal? É o estímulo para procurar de algo. Algo diferente e que seja satisfatório. Não será isso a procura da felicidade? Na letra desta música, o terapeuta (cantor) diz nunca ter visto sorrir o seu paciente, e também nunca o viu cantar. A vida é um castigo e cá para mim o paciente tem uma depressão. Sem comprimidos, o terapeuta tenta incutir a mudança, pois a vida “não é, e nem deve ser como um castigo”. Dentro do seu paciente, o cantor vê vida a latejar. É essa a porta de entrada para algo que pode potenciar a mudança e a saída de um estado depressivo.
Podíamos ficar aqui a falar de todas as músicas do António Variações. Todas têm algo terapêutico. Vejamos “A culpa é da vontade”. Será isto a teoria das pulsões de Freud, renovada e aportuguesada? Esta vontade reside dentro de mim. Não é do outro, nem do vento, nem da praia. É minha. E o que é a vontade senão algo interior a nós que nos impulsiona para algo? Seja uma necessidade ou um capricho. E o que é a pulsão? Bom, não nos vamos perder no Freud, é um caminho de onde é difícil regressar! Vamos apenas referir que é um impulso. E a vontade e pulsão são quase sinónimos nesta brincadeira de palavras que dançam na melodia do artista.
Para finalizar, pensem um pouco na música “Já não sou quem era”. Esta é muito completa! A música pressupõe a mudança que ocorre no consultório da vida. Vamos vivendo e aprendendo. E vamos nos observando e conhecendo melhor. E isto acontece na terapia. Ou pelo menos deve acontecer. Não podemos ser os mesmos quando nos conhecemos. Não podemos ser iguais quando acrescentamos conhecimento aos espaços em vazio que povoam o nosso ser. E como diz a música, vemo-nos melhor: “Já vejo com os meus olhos”, de tal forma que “Já vejo as limitações”: as nossas e as dos outros. Até onde podemos ir? Qual é o espaço que ocupamos e qual é a área que precisamos para o nosso território? E finalmente, algo que também acho importante: “meus sonhos não são iguais”. Não são nem poderiam ser. Sejam os sonhos da noite ou os sonhos como desejos do dia. Sabem que os sonhos da noite são uma porta de entrada para o consciente? Pelo menos de acordo com Freud. E sabem que, caso tenham um sonho recorrente, se conseguirem descobrir o que o inconsciente está a transmitir, deixam de o ter? Por isso, se somos diferentes, mais adultos e conhecedores do nosso eu, vamos ter outros sonhos.
E mais: “já não fico à espera”: já não espero dos outros aquilo que está em mim. Não espero que algo venha de fora para ser mais Eu, porque eu tenho em mim tudo aquilo que eu preciso. Uau. Grande Variações. Eu acho que ele era mesmo psicoterapeuta… E vou parar de ouvir por hoje. Já está aqui muita coisa!

Imagem: http://interiorfelicidade.blogspot.pt/2010/04/docura-bk.html

terça-feira, 19 de março de 2013

A culpa é do tempo


Tantas vezes culpamos o tempo que faz para exprimir aquilo que sentimos. Será a forma como nos sentimos culpa da chuva ou do tempo mais invernoso? De facto, um dia de sol traduz-se em mais energia. O ânimo é diferente. Quem já não ouviu falar dos números preocupantes de casos de depressão no inverno nos países da Europa do Norte, onde as horas de luz são tão escassas?
Mas será o mau tempo assim tão culpado? Sim, acredito que tenha a sua cota-parte de responsabilidade. Somos seres energéticos. Somos influenciados pela energia à nossa volta e um belo dia de sol e calor pode ajudar-nos a armazenar um pouco mais de energia do que um dia cinzento.
Ainda assim, acredito que a culpa atribuída ao dia cinzento deve ser aligeirada. Considero que pode ser um gatilho para uma baixa energia, mas também considero que é um potencial para estarmos connosco, mais do que estarmos introvertidos. E talvez seja esse o problema dos dias cinzentos: obrigam-nos a olhar para nós. Seja porque ficamos mais silenciosos ou porque ficamos em casa. E não é fácil ficarmos connosco, em silêncio. Não é fácil encontrarmo-nos neste silêncio e falta de luz e olhar para aquilo que somos, ou concluir que não sabemos quem somos. E aí pode residir uma enorme dor.  
E como estamos rodeados de símbolos, é também importante perceber o que significa um dia cinzento para nós. O que simboliza a chuva, a água, as poças que se formam? O que transmite um mar revolto ou um arco-íris? Para cada um de nós, cada elemento terá um significado diferente e será no encontro entre nós e o simbólico que podemos conhecer mais sobre nós.
Será então o inverno uma longa hibernação que promove uma reflexão íntima sobre nós? Se assim for, a Primavera será a altura de florescer e de nos mostrarmos ao mundo, tal como somos.

Imagem: http://radialhq.com.au/rain-water-tanks-important-facts.php


quarta-feira, 13 de março de 2013

Antecedentes não criminais

Eu hoje venho aqui falar de uma coisa que me anda a atormentar!

Não, não venho, mas podia! Este é o início de uma música de Sérgio Godinho. Muitos não sabem quem é, mas eu sei porque tive a sorte de crescer com um primo, perdão, Primo, que me deu boas dicas musicais. Tinha eu uns 13 anos e ele deu-me o album Mellowgold de Beck. para quem não conhece, vou explicar que, para uma miúda de 13 anos (sim, na minha altura com 12 eramos miúdas, crianças, vá), era muiiiiito à frente! Eu pensei, o meu primo, perdão, Primo, ensandeceu! E aqui só vão perceber se ouvirem o álbum. Deixando 1994 e voltando a 2013, o álbum é fantástico, uma obra-prima que o primo promoveu à prima. Adoro.

E com isto vão quase 20 anos. 20. Vão fazer 20 anos que o álbum saiu... E muitos anos de bons conselhos do Primo. De facto, é um privilégio poder crescer com determinadas pessoas à nossa volta. Sim, outras são um celeuma, fazem o bullying, o chateing e farting! Mas assim vamos aprendendo a viver. E com as pessoas boas que estão à nossa volta, vamos mediando os momentos menos bons com os bons. E este meu Primo, caramba, como me ajudou! Ele até me levou ao meu primeiro concerto a sério, e foi Beck, no Coliseu, 1998? Ah, boas memórias.

Selecto, de aparência tranquila, ninguém sabe muito bem no que ele vai a pensar. Mas que pensa muito, isso tenho a certeza. É um pensador nato. Ausente mas presente, é um misto de sobriedade, difícil de explicar. Só sentindo. Ainda para mais, é primo-padrinho, uich, subiu a parada logo no meu nascimento. É primó-padrinho que se recomenda. E como sei que ele é auto-info-excluído, não deverá ler isto. Mas não faz mal. Ele sabe. Eu já lhe disse!

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Super Ana dos Mares


Cresci numa praia. Parece, mas não é poético. Não havia muito para fazer de Inverno, como se pode imaginar. Então, qual Fernando Pessoa que ainda não conhecia, vivia outras vidas. Pintava o céu com outras cores, desenhava barcos no horizonte. Imaginava a vida de embarcado quando apanhava as frequências dos barcos que passavam com o meu walki-talki. Falavam em línguas que eu não percebia, mas eu era a detective! Imaginava situações, temas de espionagem e lingotes de ouro no convés!

Um dia deram-me uma bicicleta. Era o às do asfalto. Fazia corridas com a sombra, mas ganhava sempre. Às vezes ganhava o chão, ficaram as marcas nas joelhos e nos cotovelos. Os cantos do corpo sempre foram um problema! Mas quando a bicicleta ficou sem travões é que eu achei que ia correr melhor. Agora sim, tinha de ser um ás! Principalmente porque não conseguia parar...

Quando brincava com a minha irmã às estilistas, já com visão de negócio, tínhamos a empresa Estilmoda! Ela era a manda-chuva e eu nem sempre concordava com, as decisões da CEO... Quando ela cresceu, lancei-me sozinha no mundo empresarial da moda, abrindo a Surfmiau! Era uma linha de roupa surfista, jovem! Tinha slogans e também tinha um símbolo. fazia desenhos de fatos de banho, calções, biquínis... E aquilo vendia bem, nas lojas da minha mente. Bons tempos em que abrir um negócio imaginário era tudo o que era preciso para passar um dia bem passado.

Claro que também dei espectáculos! Era a melhor cantora do mundo e fazia os meus familiares pararem o que estavam a fazer e pagar bilhete para me ver aos saltos em cima da cama do meu avô. E eles iam, e pagavam! E eu levava aquilo muito a sério, como é óbvio, e por isso, antes do cartaz do espectáculo ser afixado à porta do quarto, ensaiava muito! Um dia, pelo menos...

E também tive a fase de querer ser professora. Ensinei inglês. Os meses, os números. E tive uma quermesse com prémios e tudo. Era a "Loja 0, nicles de preços"! Sim, tinha slogan para tudo! Tinha uma amiga que brincava comigo e antecipou-se, ficando com a loja 1! Então tive de ir mais além, era a loja zero, só para estar antes dela! O meu avô era o meu melhor cliente, e quando ganhava prémios, devolvia-os à quermesse (win-win situation!). O meu avô até me comprava jornais antigos quando eu achava que era dona de uma papelaria! Grande avõ que eu tive, verdade-verdadeira!

Toda a criança quer ter super poderes, ser um super herói, ser especial e reconhecida. Foi neste contexto que apareceu a Super Ana dos Mares. Ela era poderosa. Podia tudo, nem tinha poderes especiais porque podia tudo! O que tinha de diferente era a capacidade de poder estar dentro de água sem respirar, mas sem ser uma sereia, atenção! Não era uma sereia, era a Super Ana dos Mares! E podia falar com todos os animais que viviam com ela no mar, claro! E quando estava em terra, cantava para as ondas levarem a sua voz aos seus amigos peixes... Um dia, um grande amigo desenhou a Super Ana dos Mares e esse desenho era um tesouro, que tinha de ser protegido pelos piratas! O desenho perdeu-se, mas ela ficou.

Foto minha, mesmo minha. Direitos mais do que reservados. Especiais até!

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Cuidar

Cuida de mim que eu cuido de ti. Segura-me assim, no fio do prumo, que apruma a memória. Sorri para mim, fecha os olhos e chega aqui. Não, não fales, não digas nada. O silêncio diz mais, tenho a certeza. Sentes o sol? Não, não abras os olhos agora. Sente. Sente o calor, a minha presença, o chão onde nos deitámos, a aridez do vento que sopra baixinho e a minha mão na tua. Sente com o coração e com a pele. Deixa a mente a dormir, não precisamos dela agora. Cuida de ti, assim eu cuido de mim.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Dúvidas?

Dúvida (doubt, duda, Zweifel, doute...)
(derivação regressiva de duvidar)
s. f.
s. f.
1. Falta de convencimento.
2. Dificuldade em acreditar.
3. Suspeita.
4. Receio.
5. Objecção...
6. Ponto não decidido ou que se trata de resolver.
7. Crença vacilante.
8. Cepticismo.

Percebi que a dúvida é o principal entrave à nossa evolução, até porque acreditar que tudo pode ser melhor, diferente, já acreditamos, dentro de nós. Mas duvidamos dessa voz. Ou duvidamos da possibilidade de a ouvir. Ou de ela falar.

Duvidamos que somos capazes, duvidamos do que o futuro traz e duvidamos das opções do passado. Duvidamos do que já fizemos, do que estamos a fazer e do que vamos fazer amanhã. Não temos bem a certeza disto, daquilo e daquel'outro. Questionamos as ferramentas que já temos, o que fazer com elas e ainda sobre quando as usar. Duvidamos de nós, dos outros, do "eu", o self, de todos.

Às vezes as rodas não andam, a carruagem não passa. E nós não sabemos porquê. Andamos, quebramos e caímos. Para depois levantar e avançar na dúvida. Duvidando vamos andando. E quem carrega a dúvida é o medo. E às vezes é maior e paraliza, outras é tão pequeno que conseguímos passar por ele. Mas a dúvida pergunta-nos sempre se queremos avançar.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Frases feitas


Sim, eu gosto de frases feitas, começo por dizer isso. Sim, é certo que existem algumas demasiado tontas, outras mais sérias, umas até demasiado lamechas. Mas sim, gosto das frases. Agora há um boom de frases feitas com imagens bonitinhas. Sim, também gosto, de algumas. As imagens e as frases. Umas são anónimas e outras são de pessoas sérias, ou não, mas conhecidas. Eu gosto tanto de frases feitas que às vezes faço umas minhas! Daquelas que não ficam no ouvido, ficam no coração!

O que eu não gosto é do síndrome de excesso de frases feitas. Daquelas situações em que as pessoas metem e repetem, partilham e repartem pelo mundo as frases bonitinhas, imagens dengosas e comentam "verdade...". Como se os pontos das reticências pudessem dar profundidade a alguém que não lê as entrelinhas. Lêem por alto, de esguelha, na diagonal. De lado, sem interesse, sem dar nota do que lá vem.

Fosse eu Buda e não me afectava, mas sendo humana, confesso que ainda me surpreendo com as pessoas que partilham estas frases e que eu percebo que não as leram bem. Porque as conheço. Sei que a mensagem subtil não foi recepcionada. Às vezes o universo é tão irónico que as frases são a tampinha para a panela da pessoa. Mas elas agem feitas tontas sem saber onde a tampa se mete. Então, deixam-na do lado de fora. Como é tão grande a desresponsabilização das pessoas sobre elas próprias... (para dar profundidade!).


Imagem: http://emeaprendizdaescrita.blogspot.pt/2011/04/insonia.html

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Tratamento humano


No simples tratamento humano do outro, não existem hierarquias.

Imagem: http://zimborios.blogspot.pt/2010/12/vela-uma-luz.html

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Filmes



Deixei de ver filmes de guerra. Não vi mais filmes de combates. Apaguei a luz aos fantasmas e virei costas a monstros e et's. Desacreditei a tv real e também a ficcional. Desliguei o botão às notícias, apaguei as gordas dos jornais. Pintei as revistas cor de rosa com bâton. No quis mais contendas, não vi mais debates. Nem arenas eu vi mais. Desliguei o rectângulo com luz. Escondi o comando, tirei-lhe as pilhas. Tapei o mundo que não é real e fiz o meu script. Imaginei os meus cenários. Gritei "acção", quis começar a viver. Criei novos sons. Graves, mudos, abafados, inaudiveis, visíveis e não perecíveis. Aumentei o volume do que era meu, coloquei-me no papel principal. Antecipei-me, ri, esbocei as caretas do mundo. Fiz o que quis, o filme era meu. Afastei o fado, o mal-agrado, dilacerado, e o resto que era atarantado. Fugi, voltei, corri, amei, sou a diva da vida minha.


Imagem: http://www.artifacting.com/2012/10/rain-room/

sábado, 26 de janeiro de 2013

Dores

Normalmente doem-me as costas. Ultimamente até o braço dói, ameaçando com uma tendinite ou outra coisa qualquer que ninguém quer e que acaba em "ite". Estas dores concentram-se no lado direito. Os mais específicos dirão que está relacionado com um dos pais, essas coisas (que posso até nem desmentir!). O que é certo é que esta semana este lado direito começou a falar baixinho. Depois elevou a voz até um ponto em que eu não o conseguia calar! Gritou comigo, o malandro. Eu, que me porto sempre tão bem, como ousa ele...!

No primeiro dia em que o lado direito gritou, eu, que não gosto nada de tomar comprimidos, tomei uma broca ou uma bomba, nomes pelos quais são conhecidos os comprimidos mais fortes, pelo menos aqui, na minha vida. Tomei-o à noite, a moca foi curtida a dormir, passou leve, levemente.Ora, o meu corpo deve ter pensado: "aí é? queres ir pela via fácil do comprimido, então 'pera aí que eu já te conto uma história!" (verídico, ãh? Ele fala comigo!). Então, possivelmente no intuito de não dormir em cima do lado direito das costas, dormi no lado esquerdo e o resultado foi uma dor de costas no lado esquerdo ainda maior que a do lado direito! Pronto, morre-se da cura, morre-se do remédio...

O que é certo é que acordei empanada, escarunchada, torta... Tanto que me custava a respirar. Pronto, mais uma broca, desta feita pela manhãzinha! Ao pequeno-almoço para não arreliar o sr. estômago que pode sempre querer ter uma palavra a dizer! Lá fui eu de dores na esquerda, a direita ainda moída, e uma bomba prestes a estalar no estômago.

O comprimido fez efeito, mas só na cabeça em forma de moca fenomenal que me fez cortar palavras (querem um exemplo? Em vez de telepatia disse telapia ou coisa que o valha, portanto a moca deu-me um munchies de comer letras). A dor nas costas permaneceu, o que mudou foi a forma dormente como a minha cabeça a sentia.

Ao longo do dia, talvez pelo movimento, a coisa foi melhorando. Fui me deitar francamente melhor mas ainda muito moída. E durante esta nova noite? Exacto, outra vez a mesma coisa! Acordei novamente vilipendiada, menosprezada, desrespeitada pelo meu corpo! Como ousou ele fazer isto novamente! Mais uma broca, uma bomba a estalar. Ao pequeno-almoço, claro. Relembro que este foi o terceiro dia seguido com brocas. Meus amigos, a bomba estalou! Fiquei nauseada, apática, sem energia, um só visto de efeitos secundários que pela forma de ataque mais pareciam primários!

E as dores não passaram! 3 brocas em 3 dias e as dores não passaram. Mais uma vez, ao longo do dia com movimento, foi melhorando, mas permanecia a dor quando respirava fundo. Permanecia o desconforto. E tudo isto coroado com uma dormência mental inacreditável. Pensei mal de mim: "mas porque é que ando a adiar a minha ida para o Yoga? Mas porque é que não vou fazer aquelas massagens que tenho para fazer de uns vouchers? Mas porque é que ...". E outra coisa me assombrou: o que quer o meu corpo dizer com isto? Qual é a mensagem que ele quer passar? E a cabeça voou nisto o dia todo.

E sabem como é que eu resolvi a situação? Disseram-me para experimentar mudar a almofada. Assim o fiz, troquei a minha lingrinhas por uma encorpada e hoje acordei óptima, sem dores, sem ter de tomar brocas falsas que nos deixam dormentes da cabeça.

Moral da história: Às vezes andamos às voltas à procura de uma solução. Procuramos a razão de uma coisa, matamos a cabeça para perceber como a resolver. E afinal de contas, só precisamos de mudar uma coisinha, um detalhe. Aqui é uma almofada. Para mim é mais do que uma almofada. Sabem porquê? Porque a cabeça descansa na almofada. E o que eu precisava era de "descansar" a cabeça. Sabem qual é a almofada na vossa vida?

Imagem: http://www.google.pt/imgres?start=162&hl=en&tbo=d&biw=1440&bih=732&tbm=isch&tbnid=kv-HoLO-azDM0M:&imgrefurl=http://weheartit.com/entry/20566052&docid=qjZi-I_3LBlqIM&imgurl=http://data.whicdn.com/images/20566052/lembrancinha-almofadas-m-ms-285E6B_large.jpg&w=500&h=375&ei=TKQDUazAD8qXhQeVtYCwCw&zoom=1&ved=1t:3588,r:80,s:100,i:244&iact=rc&dur=5&sig=109413219959779442632&page=8&tbnh=181&tbnw=233&ndsp=24&tx=106&ty=64