quarta-feira, 29 de maio de 2013

Palavras são armas

Fazem-se juízos de valor sem conhecimento de causa. Fala-se do outro sem se saber. Fala-se do outro sem o outro ouvir. Determinam-se, sobre a vida do outro, origens, causas e culpas. Faz-se o auto e assinam-se sentenças. Cada um à sua moda, cada um com a sua crença. Mas a crença do outro não importa. Importa sim, a de cada um, quando esse cada um fala de cada outro. Maltrata-se o outro em palavras e constroem-se dicotomias, pois quem fala não vê que no fundo fala de si. Sugerem-se resoluções, soluções disparatadas como deitar água na areia do deserto e esperar que algo brote. Criticam-se métodos, mas não os de quem fala. Quem fala diz ter sabedoria, mas é surdo porque não ouve que o que fala, fala para si. É cego, porque não vê o espelho do outro à sua frente, que reflecte a sua imagem. Antes fosse mudo, para não dizer o que não deve.


Fala-se muito, demais. E quem fala não percebe que as palavras são armas. São instaladores de traumas, de tristezas e de dúvidas. E embora essas palavras não tenham efeito no imediato, elas ficam na pessoa que as ouve. Se não as souber transformar, essas palavras vão ser dilacerantes e vão ganhar poder com o tempo. Palavras ou actos são poder na ponta da língua ou na ponta dos dedos.

Não teçam tapetes se não sabem manusear o tear. Não falem do que não sabem. Dêem espaço aos outros para serem quem são. Permitam que os vossos amigos caiam para que possam aprender a melhor forma de voltar a estar de pé. Sejam assertivos, digam o essencial, apontem a luz, não o caminho.

Se eu sou inocente? Não. Gosto de emitir opiniões. Mas cada vez mais vejo a diferença entre dar uma luz ou dar uma opinião. A luz brilha, a opinião não. Uma mera indicação ajuda a pessoa a pensar, uma direcção, como uma seta, obriga a movimentos para os quais a pessoa pode não estar preparada. E uma luz que ajuda a pensar, ajudará a pessoa a pensar na sua própria perspectiva, e não pelos olhos de quem está por perto. Dar uma luz é apostar na potencialidade da pessoa. Dar uma luz é promover a liberdade e respeitar quem nos procura ou quem está por perto. É como dar à luz, é deixar a vida sair de nós e ser independente. E se pensam que estas situações acontecem com quem está na periferia imediata de cada um, enganem-se. É no centro, na familia, que mais palavras são disparadas e acertam em cheio no coração.

Imagem: http://serapossivel.com/quantas-palavras-diz-em-media/

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Ses


Se eu ficar a pensar no que falta, vou perder aquilo que tenho.
Se pensar no amanhã, perco o dia de hoje.
Se me perco nas amarguras do passado, esqueço-me de que não o posso mudar.