quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Mudemos de assunto, sim?

Tenho um amor especial por letras de canções. Não todas, apenas aquelas que ressoam em mim. Não tenho como explicar. Temos a musicalidade, os instrumentos, a voz... E a letra! E quando tudo se combina como se tivesse sido feito no Olimpo, só pode ser um momento divino! Esta letra de Sérgio Godinho, como tantas outras, faz-me pensar em como é bom existir, viver com música.

Andas aí a partir corações
como quem parte um baralho de cartas
cartas de amor
escrevi-te eu tantas
às tantas, aos poucos
eu fui percebendo
às tantas eu lá fui tacteando
às cegas eu lá fui conseguindo
às cegas eu lá fui abrindo os olhos
E nos teus olhos como espelhos partidos
quis inventar uma outra narrativa
até que um ai me chegou aos ouvidos
e era só eu a vogar à deriva
e um animal sempre foge do fogo
e mal eu gritei: fogo!
mal eu gritei: água!
que morro de sede
achei-me encostado à parede
gritando: Livrai-me da sede!
e o mar intecro entrou na minha casa
E nos teus olhos inundados do mar
eu naveguei contra minha vontade
mas deixa lá, que este barco a viajar
há-de chegar à gare da sua cidade
e ao desembarque a terra será mais firme
há quem afirme
há quem assegure
que é depois da vida
que a gente encontra a paz prometida
por mim marquei-lhe encontro na vida
marquei-lhe encontro ao fim da tempestade
Da tempestade, o que se teve em comum
é aquilo que nos separa depois
e os barcos passam a ser um e um
onde uma vez quiseram quase ser dois
e a tempestade deixa o mar encrespado
por isso cuidado
mesmo muito cuidado
que é frágil o pano
que enfuna as velas do desengano
que nos empurra em novo oceano
frágil e resistente ao mesmo tempo
Mas isto é um canto
e não um lamento
já disse o que sinto
agora façamos o ponto
e mudemos de assunto
sim?

Letra de Sérgio Godinho

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Palavras, escrevo-te eu tantas


Justo quando achava que as palavras eram o caminho, elas sumiram. Esvaziei a cabeça. Olhei lá para dentro e não vi nada. Só vejo imagem, reflexos, temas genéricos. Vejo o cenário mas não escrevo a história. Roda o mundo devagar, ou depressa, e roda a saia da boneca que dança na minha cabeça. E gira, gira, gira... Saia de baile, ela ri, espalha a graça, sinto o riso, não tenho as palavras.

Assim fiquei nos últimos meses. Muitas outras palavras vieram, concretas, académicas, objectivas, acertadas. Ocuparam o espaço da subjectividade. E agora, essas palavras direitas, rectas, certas, estão a ir embora aos poucos. E aos poucos sobra espaço, espaço para a cor. Para o que não é certo mas pode ser, o que é redondo, indirecto... E sorrio. Porque existem palavras que são nossas. Podem adormecer durente um tempo, mas nunca nos abandonam.

Imagem: http://luciointhesky.wordpress.com/tag/rain-dos-beatles/