terça-feira, 24 de junho de 2014

Responsabilidades

Às vezes a minha vida parece uma novela da TVI, apenas acredito que não sou digna da estação de Queluz porque não existem gémeos na minha vida. Todo o processo de estar grávida (e ainda não chegou o P-day) dava para um livro com alguns capítulos consideráveis. Se a isto juntarmos toda uma série de gente descompensada à minha volta e uma médica com uma brevidade de foguetão... As consultas andam pelos 5/10 minutos e as respostas são mais evasivas do que as minhas respostas ao exame de filosofia do 12º ano. A única diferença é que nessa altura era mais certinha e seguia mais à risca o que me diziam. Amén à maturidade, que vai crescendo connosco e que nos permite também ser mais responsáveis por nós. E assim sendo, mesmo que nos digam alhos, nós podemos ir procurar a resposta para bugalhos e assim adaptar para nós a melhor forma de evitar uma grande... alhada.

E por alhada não quero dizer problema ou dificuldade. Por alhada, neste contexto, é ficar no nosso canto, sem tomar proactivamente conta da nossa vida, ou seja, sem tomar a responsabilidade pelas nossas decisões. E cada vez mais acho que é esse o desafio terapêutico de muito boa gente neste país. Sei que parece que apenas venho aqui dar uns bitaites zangados, mas acreditem em mim quando vos digo que escrevo isto sem zanga, mas ainda com alguma frustração. As pessoas vivem na queixa, e eu, já bem redonda, estou sem paciência para a queixa dos outros. Acredito que muito do processo evolutivo passa pela responsabilização das pessoas em relação às suas vidas, à aceitação de que têm um papel central na sua vida e que podem fazer mais por si mesmas, arriscando e indo mais além. Desresponzabilizar-se é ficar longe das teias do medo e da dúvida, e eu entendo isso, mas às vezes é preciso arriscar e mandar abaixo uma parede pois existem janelas que não deixam passar muita luz...

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Mantra do ano: entregar e confiar.





No outro dia fiz um teste ao meu equilíbrio, mesmo gravidissima, e fiz aqueles exercícios de alongamento em que puxamos o joelho para cima e nos equilibramos com o pé que fica em contacto com o chão. Depois, e sem colocar o pé malabarista no solo, passei-o para trás, dobrando o joelho e deixando o calcanhar tocar o rabiosque. Repeti a proeza com a outra perna. Quem estava comigo ficou impressionado com o meu equilíbrio, pois não pestanejei nem balancei e fiz tudo sem um saltinho para voltar ao sítio. Eu achei o máximo, pois se há coisa que achei que nunca seria, era equilibrista. E hoje percebi: eu tenho mais equilíbrio do que penso. E o meu corpo já o sabe, a mente é que ainda não tinha percebido.


A mente, essa malandra, também sempre achou que eu era super saudável, porque tinha de ser. Simplesmente porque não podia falhar. O corpo sempre acompanhou e sempre fui saudável. Mas sempre pensei, no lado terapêutico da coisa, em que esta vontade de ser saudável seria se calhar forçada pelo lado da mente e que qualquer dia tinha uma surpresa para aprender que as meninas perfeitinhas e bem comportadas também ficam doentes. Doentes à séria. O que aconteceu foi que aprendi que o corpo está bem quando a mente se aquieta, e que a mente se aquieta quando o corpo está bem. O corpo sabia, a mente também, só não sabiam que ambos sabiam, qual novela mexicana.

Ao longo dos últimos meses comprovei que há um tema gigantesco na minha vida: lidar com os outros. E aqui podemos remeter para a questão dos limites, já exposta no Blog; das relações e das expectativas e decepções em relação aos outros. Ora, num momento em que só vemos coisas estranhas a acontecerem, têm sido períodos conturbados. E não falo só de situações pessoais. Falo daquelas pessoas que fazem grandes asneiras na estrada e acham que têm razão; pessoas que cometem crimes e são aplaudidas à chegada ao tribunal; homens que matam as suas mulheres porque têm um sentimento de posse irrevogável; a política, que me desafina; os poderosos porque têm o rei na barriga; e todo um sistema financeiro caquéctico e irrenovável. Tudo isto me afecta no sentido em que mina as minhas visões de futuro. Não sou pessoa de ter grandes sonhos para o futuro, a não ser o de ser feliz. E este, parecendo único e simples engloba muita coisa. Claramente que o que eu resumi acaba por influir e minar a minha ideia de felicidade, mas depois lembrei-me: são tudo factores externos. Aprendi que a nossa ideia de felicidade deve depender apenas das nossas concepções internas, e não do que ocorre no exterior.

São três lições que encaixei hoje. Ou melhor, a primeira encaixei, a segunda vai indo, a terceira tem tempo! Mas há um sumo a retirar destas três frases: devemos confiar mais em nós e na nossa capacidade de conseguir chegar a algum lado, seja esse lado o que for. E já não é a primeira vez este ano que eu percebo que este ano é assim: entregar e confiar.

Imagem: http://pginasdeamor.blogspot.pt/2010/07/alongamento-basico-para-ensaios.html