terça-feira, 21 de julho de 2015

Lema, dilema e trilema

No outro dia estive num workshop dado pela grandiosa Gabriele Hoppe e direccionado para terapeutas que me deu uma nova visão: lema, dilema e trilema. Giro, não? Um lema é algo que seguimos, algo único e, apesar de surgir a possibilidade de ser uma sentença de acordo com o dicionário, para mim é algo que tem chão, sentido, direcção. O dilema é quando temos na mão os dois passarinhos e existem duas alternativas mas não sabemos qual delas a melhor e qual escolher. Mas aqui ficamos com os pobres passarinhos e aquela venha cantiga de "mais vale um na mão..." não chega para largarmos um deles. E quando estamos com um dilema com asas nas mãos, a tendência é sobrevoar os dois lados e não sair dali, não tomando nenhuma decisão. Planamos em círculos e assim fica a nossa cabeça: à roda e sem sair do mesmo lugar.

Então, o que é um trilema? Não vale a pena perder tempo no dicionário, de facto, esta palavra não existe... Mas é fácil ver que dele fazem parte o dilema e mais qualquer coisa. Pois bem: temos a opção 1, a opção 2, e temos também uma terceira opção que é precisamente algo que poderá acontecer no futuro e que não sabemos o que é. Isto pode parecer estranho mas na psicoterapia, devidamente colocado, pode ser a chave para a percepção dos nossos dilemas através de novas perspectivas.

Neste workshop, a técnica transmitida foi simples: colocam-se papéis no chão com as seguintes designações: opção 1, opção 2, nenhuma delas e ambas (em formato de cruz, pedindo-se depois que o cliente se coloque no meio numa fase inicial). O cliente tem um quinto papel na mão que vai colocar onde lhe fizer mais sentido: algo que desconheço e que pertence ao futuro. O que se pede de seguida é que o cliente se coloque em cima de cada um dos papéis e sinta. Sinta o que vem a nível corporal, sensações, pensamentos... O papel do terapeuta é fulcral pois é o seu olhar atento que poderá detectar mudanças subtis no corpo do paciente enquanto muda de lugar.

O mais importante de tudo é que não se procura uma resposta nem se pretende que o cliente saia deste exercício com uma escolha activa sobre o que vai fazer em relação ao seu dilema ou conflito. Pretende-se que o cliente sinta cada lugar e permita que o corpo revele algum sinal ou indicação. E isso sim, poderá ser depois explorado no consultório.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Holding

O Holding é um dos temas da Pós-Graduação em Psicoterapia Corporal em Biossíntese e a sua definição sugere apoio, sustentação e segurança. Quando nascemos precisamos ser vistos, tocados e necessitamos de nos sentir em segurança. A forma como fomos nutridos nesta fase inicial da vida é fundamental e pode trazer respostas para a forma como nos sentimos hoje. Como fui recebido pela minha família? Como fui visto e cuidado?

Os sentidos assumem uma grande importância nesta altura, pois é através deles que o bebé vai percepcionar o mundo. Quando nascemos já trazemos os cinco sentidos desenvolvidos e na audição, embora o bebé possa não perceber o que lhe é dito, a forma e o tom de tudo o que o circunda é muito importante. Ele sabe distinguir entre a voz meiga do cuidador ou uma voz irritada. E vai reagir a isso.

Imaginem então a importância do toque num corpo que passa por uma transição tão grande: estava numa bolha, num mundo aquático e vem para um local onde há luminosidade, roupas, barulhos estridentes. O toque acalma e o contacto da pele, corpo a corpo, é um grande recurso para o bebé aprender a confiar no mundo e a ser nutrido por ele. A visão é também uma forma muito forte de contacto. Dizem que o bebé quando nasce apenas consegue ver cerca de um palmo à frente do seu nariz, que será o suficiente para ver a cara da mãe enquanto se alimenta. O olhar que a mãe vai devolver ao bebé pode estruturá-lo se for um olhar "quente" que traz excitação e é expressão de amor. Se for um olhar frio, pode congelar o organismo e deixar o bebé perdido.

Será preciso ser um pai ou mãe (ou cuidador) suficientemente bom (como Winnicott dizia), para reconhecer, espelhar e ampliar o entusiasmo da criança, permitindo-a explorar o mundo através de uma comunicação aberta entre todos os elementos da família.