Mesmo quem não está muito atento já deve ter ouvido falar do aqui e agora. Desde Eckhart Tolle, o autor do livro "O Poder do Agora", que o mundo ocidental recebeu esta dádiva do conhecimento sobre o estar presente no presente sem estar agarrado ao passado, que não pode mudar, e sem se perder no futuro que é desconhecido. Mas, como em tudo na vida, conclui que também aqui é preciso ter conta, peso e medida, ou seja, obter algum equilíbrio e clareza sobre o que é estar no aqui e no agora.
De facto que estar aqui e agora é promover uma certa liberdade das amarras neuróticas do nosso passado, da nossa história, assim como sentir o desprendimento do controle das coisas futuras, nebulosas e desconhecidas. É muito difícil chegar a um estado de quase iluminação no qual estamos no aqui e agora a todo o momento. O Mindfulness, sobre o qual não sei muito, ajudará imenso nesta perspectiva. Ainda assim, na busca por este el dorado, creio ser importante encontrar um equilíbrio saudável, ou seja, neste trio, não ficar só pelo cantor, pois sem os outros não temos a banda completa.
Entrar num registo de procurar o presente renegando o nosso passado é um erro. O nosso passado existe e acompanha-nos. É a nossa história e é de onde vimos. Sei que por vezes temos traumas escondidos ou existem coisas das quais nos envergonhamos ou arrependemos, mas estão lá. E virar as costas a algo que nos trouxe até aqui é sair de casa sem chapéu-de-chuva quando já está a trovejar. O mesmo se passa para o futuro e aqui o grande erro é viver numa espontaneidade falsa na qual não importa o amanhã. Sim, de facto não importa a neurose da expectativa, mas fazer planos não tem porque ser neurótico. Pensar nos nossos projectos futuros, o que queremos para nós e como organizar a próxima semana na agenda não é ser rígido ou controlador. E fugir das responsabilidades com a capa do "aqui e agora" também é uma armadilha que pode surgir.
Como em tudo sobre o que tenho reflectido importa sempre olhar para nós, em determinadas temáticas e questionar: onde está o equilíbrio, para mim?
Imagem: Ana Caeiro
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