"Não quero!", dizia ela enquanto fugia. Nunca gostou de palhaços, nem mesmo quando era pequena. Imaginamos que todas as crianças gostam de palhaços, não é? As cores, o aguerrido. Mas não, não gosta, nem agora que é adulta. Queria eu pensar que pelo mesmo motivo, mas afinal não. Quando viu que o palhaço que andava pela baixa a pedir dinheiro se tinha afastado, voltou para perto de mim e revelou que tinha apanhado um susto enorme quando era mais nova, um palhaço que atirou água... Perdi-me a vê-la falar. Sim, a ver, porque ela falava com as mãos e eu perdia-me naqueles movimentos graciosos. Acenava apenas para que ela não suspeitasse da minha súbita abstracção e para que ela continuasse a falar.
É do que sinto mais falta. Aquela graciosidade. Mas quis a vida que eu fosse outro palhaço na vida dela. Perco-me agora nos momentos pequenos, nas pequenas palhacisses da vida. Poderia dizer, como é comum: quis o destino que assim fosse. Mas não, quiseram as minhas atitudes apalhaçadas que o triste desfecho ocorresse. A palhacisse é nossa. Basta escolher, fazer rir ou fazer chorar?
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