sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Vidas-novas-vidas

O dia em que íamos comprar os livros era um dia de festa. Se nesse ano pudesse comprar um estojo novo ou até uma nova mochila, era o êxtase completo. Mas atenção: naquele tempo só se compravam coisas novas quando as velhas se estragavam.

Voltando aos livros. O cheiro dos livros escolares novos, lembram-se? Ficava ansiosa para chegar a casa e poder folheá-los. Queria logo escrever o meu nome para que ficasse estabelecido que aqueles eram os meus livros. E depois chegava o doce momento de os forrar. Lembro-me de um papel transparente com umas folhas ou flores verdes. Engraçado como os papéis de forrar livros evoluíram. Este das flores ou das folhas, não era autocolante, isso surgiu bem mais tarde. Este era colado com fita-cola e não era eu que forrava os livros, ainda não tinha muito jeito para isso, se é que alguma vez o tive!

Lembro-me do longo processo de escolha das canetas que iam figurar no estojo. Era um processo lento e complicado. tinha de escrever o meu nome completo com todas as minhas canetas e fazer uma escolha. Ah, e este processo de escolha era organizado por cores. Queria uma caneta de cada cor, então pegava em todas as canetas de determinada cor e escrevia para seleccionar a que mais me agradava. E eu tinha muitas canetas, muitas mesmo.

E toda esta magia acontecia um mês ou mais, antes da escola começar. Em criança senti muitas vezes esta ansiedade. Entretanto saiam os horários e as turmas. como andei numa escola pequena, as turmas não eram novidade, mas os horários sim. Sabendo o horário, lá ia eu para casa escrever o horário naqueles papelinhos que davam na papelaria. Mais tarde já se fazia em excel e imprimia-se, mas isso foi muito mais tarde! Escrevia o horário em tantos sítios que passado pouco tempo já o sabia de cor. enquanto o fazia magicava sobre o novo ano lectivo. Quem iam ser os professores? O que iria fazer nas tardes livres? Será que íamos ter muitas visitas de estudo?

O voltar à escola era muito mais do que esse simples movimento. Era todo um sonhar acordado, um planear desmedido. Era bom e é um facto que essa sensação de renovação ainda me acompanha nesta altura do ano...

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