terça-feira, 26 de março de 2013

Músicas


Hoje acordei com uma música:
"Quando a cabeça não tem juízo
Quando te esforças mais do que é preciso
O corpo é que paga"
O Variações tem destas coisas, ao lembrar uma música de manhã, já sabemos que nos vai acompanhar o dia todo. Agora que leram uma parte, digam lá se não estão já no “deixa-o pagar, deixa-o pagar”?
Para além de a letra martelar a cada minuto na minha cabeça, num looping desgraçado, o significado das palavras dança em mim. Este bocado de cantiga faz lembrar a psicossomatização. Parece que o Variações já percebia de psicoterapia corporal naqueles tempos. De facto, está comprovado que a mente tem uma força muito grande no que concerne às doenças. E a psicossomatização é isso: é a influência do nosso lado psíquico no nosso corpo, no nosso lado físico. Um conflito que mora na nossa mente acaba por afectar negativamente o nosso corpo. Daí se dizer que muitas das doenças têm origem na nossa cabeça. E quando a cabeça não tem juízo…
Qual artista do consultório, o Variações (que variava tanto no seu exterior) escreveu grandes verdades na psicoterapia, e não foi só nesta música que vos coloquei gentilmente na cabeça.
Como é que o “mudar de vida se tu não vives satisfeito” não é um mote à mudança, à evolução pessoal? É o estímulo para procurar de algo. Algo diferente e que seja satisfatório. Não será isso a procura da felicidade? Na letra desta música, o terapeuta (cantor) diz nunca ter visto sorrir o seu paciente, e também nunca o viu cantar. A vida é um castigo e cá para mim o paciente tem uma depressão. Sem comprimidos, o terapeuta tenta incutir a mudança, pois a vida “não é, e nem deve ser como um castigo”. Dentro do seu paciente, o cantor vê vida a latejar. É essa a porta de entrada para algo que pode potenciar a mudança e a saída de um estado depressivo.
Podíamos ficar aqui a falar de todas as músicas do António Variações. Todas têm algo terapêutico. Vejamos “A culpa é da vontade”. Será isto a teoria das pulsões de Freud, renovada e aportuguesada? Esta vontade reside dentro de mim. Não é do outro, nem do vento, nem da praia. É minha. E o que é a vontade senão algo interior a nós que nos impulsiona para algo? Seja uma necessidade ou um capricho. E o que é a pulsão? Bom, não nos vamos perder no Freud, é um caminho de onde é difícil regressar! Vamos apenas referir que é um impulso. E a vontade e pulsão são quase sinónimos nesta brincadeira de palavras que dançam na melodia do artista.
Para finalizar, pensem um pouco na música “Já não sou quem era”. Esta é muito completa! A música pressupõe a mudança que ocorre no consultório da vida. Vamos vivendo e aprendendo. E vamos nos observando e conhecendo melhor. E isto acontece na terapia. Ou pelo menos deve acontecer. Não podemos ser os mesmos quando nos conhecemos. Não podemos ser iguais quando acrescentamos conhecimento aos espaços em vazio que povoam o nosso ser. E como diz a música, vemo-nos melhor: “Já vejo com os meus olhos”, de tal forma que “Já vejo as limitações”: as nossas e as dos outros. Até onde podemos ir? Qual é o espaço que ocupamos e qual é a área que precisamos para o nosso território? E finalmente, algo que também acho importante: “meus sonhos não são iguais”. Não são nem poderiam ser. Sejam os sonhos da noite ou os sonhos como desejos do dia. Sabem que os sonhos da noite são uma porta de entrada para o consciente? Pelo menos de acordo com Freud. E sabem que, caso tenham um sonho recorrente, se conseguirem descobrir o que o inconsciente está a transmitir, deixam de o ter? Por isso, se somos diferentes, mais adultos e conhecedores do nosso eu, vamos ter outros sonhos.
E mais: “já não fico à espera”: já não espero dos outros aquilo que está em mim. Não espero que algo venha de fora para ser mais Eu, porque eu tenho em mim tudo aquilo que eu preciso. Uau. Grande Variações. Eu acho que ele era mesmo psicoterapeuta… E vou parar de ouvir por hoje. Já está aqui muita coisa!

Imagem: http://interiorfelicidade.blogspot.pt/2010/04/docura-bk.html

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