segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Projectos, aspirações e frases feitas

"O que deixa as pessoas ansiosas em relação ao futuro é um medo atormentador de o melhor já ter passado ou de uma oportunidade perdida se vir a mostrar decisiva. «O que me escapou» é um tema recorrente de vidas românticas falhadas, aplicando-se igualmente a carreiras falhadas, projectos abandonados e aspirações destruídas. Porém, «o que me escapou» resume-se a mantermo-nos fiéis a uma ideia fixa."

Deepak Chopra, "Reinventar o corpo, descobrir a alma" (página 229)


Tenho muitos livros por ler. Neste momento, com um filho tão pequeno, por mais que consiga encontrar uns minutos para me sentar e ler, o cansaço não o permite. Mas não deixo de folhear os meus "livros por ler", que se resumem a uma pilha na mesa de cabeceira. Esperam pacientemente pelo dia em que são lidos para, finalmente, repousarem numa quase eternidade na estante, guardados por ordem alfabética.

Encontrei este livro de Deepak Chopra no meio da pilha. Como em todos os livros, está lá o meu nome, local, mês e ano de compra. Vejo que o comprei em Tavira, nas férias de verão do ano passado. Quase um ano passou, li tantos outros livros e este ficou ali, no meio da pilha, qual torre de Pisa, não fosse o facto de estarem direitinhos e com as lombadas bem visíveis, um trabalho da minha querida irmã que gosta de ver tudo aprumadinho.

Dizia eu, gosto de folhear os livros e ler uma frase ou um parágrafo ao calhas. E aqui eu encontro o maravilhoso humor do destino, universo, ou como o quiserem chamar. Sempre que faço este exercício livresco, encontro algo que faz todo o sentido em determinado momento. E rio-me, porque de facto, comprei o livro há um ano e agora que o abro sei lá onde, encontro umas frases que me servem como uma luva.

Não é que não soubesse, desde já, o que diz ali em cima, mas por vezes andamos tão distraídos (e acreditem, nunca estive tão distraída dentro da minha própria casa) que não percebemos que certas "frases feitas" que já incorporamos há uns tempos atrás voltam a ganhar validade e a tomar um novo sentido, numa altura diferente e de forma diferente.

E é isto que eu adoro na evolução pessoal. Por mais que já tenhamos aprendido a lição número 1, 2 ou 3, elas voltam a surgir nas nossas vidas. E aqui não creio que haja uma regressão (não defendo a teoria de que podemos regredir na evolução pessoal, acredito em estagnações, ou patamares de escadas, como já falei aqui), mas sim duas coisas: primeiro, uma confirmação, ou seja, uma forma de validar se aprendemos de facto a lição, e ao repetirmos esta "cadeira" validamos não o conhecimento, mas sim a sabedoria que temos sobre o tema;  depois acredito que uma lição pode servir de base para outros temas.

Vejamos o exemplo dado por esta frase de Chopra. A ideia base é a mudança, mas também fala sobre o medo do futuro, das decisões e em última instância, da responsabilização sobre a nossa vida. Aqui, a "lição", pode se desdobrar em inúmeras aprendizagens e a diferença sobre o que vamos aprender, creio eu, reside apenas no momento em que vamos receber esse conhecimento, pois dependendo de como somos nesse momento, vamos interpretar de diferentes formas. Se eu tivesse lido esta frase há um ano, se calhar ia para a parte dos relacionamentos, de ter casado recentemente e de planear ser mãe. Neste momento a minha leitura é outra, e apesar da "lição"/frase ser a mesma, a aprendizagem pode ser outra completamente diferente.

E da mesma forma como eu posso interpretar esta frase de forma diferente ao longo do tempo, imaginem a quantidade de interpretações que pode ter, consoante a pessoa que a lê! Claramente que, se não for altura de assumir a mudança e interpretar o que se lê, não existem frases feitas no mundo capazes de mudar. Por isso, acabo por ser bastante crítica quando vejo todas aquelas frases feitas nas redes sociais com uma bela paisagem como pano de fundo. Quando leio essas frases e associo a quem as publica fico um pouco admirada: a pessoa não leu as entrelinhas, ou então a interpretação que faz é a que mais lhe convém...

Por mais frases bonitas e livros fantásticos que existam no mundo, a interpretação desse conhecimento e a sua passagem para uma sabedoria construtiva, com pés e cabeça vai depender da vontade de cada um de mudar e evoluir, e isso, tem um custo: dura a vida toda e uma vez que se dá esse passo, não há como voltar a olhar para trás da mesma forma.

Imagem: http://hazatelierarquitectura.com/2012/06/11/projectos-chave-na-mao/

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