O meu avô faz-me falta. Que me perdoem os outros que também fazem falta, mas há um que falta mais. Falta quando estou triste e quero um sorriso. Falta quando estou feliz porque quero um reconhecimento. Também falta quando tenho dúvidas pois a sua sabedoria sempre me deu as respostas certas.
Lembro-me de um desgosto amoroso, e das palavras sábias do meu avô perante a minha tristeza: "Ainda és nova, ainda vais ter muitos namorados, e melhores! Que te tratem bem." Isto dito por um homem da velha guarda, mas a modernidade é sempre necessária quando se conforta a neta num momento de sofrimento.
Tudo era simples. As respostas que ele me dava eram simples, embora por vezes eu colocasse as perguntas mais difíceis. Lembro-me de ser muito pequena e estar na rua com ele e perguntar: "onde estamos avô?" Ele dizia que estávamos na Praia Grande. E eu impaciente, dizia: "eu sei, não é isso! Estamos no Porto? Em Lisboa?" Ele lá explicou a geografia da coisa, da Praia Grande a Portugal. E depois quis o destino que eu estudasse Geografia.
Lembro-me de o ver no hospital depois de uma entrevista de emprego e de lhe dizer que ia começar a trabalhar "a sério". E lembro-me muito bem da cara dele, de orgulho, ali deitado. Quis a vida, matreira, que ele fosse chamado antes de eu começar noutras pegadas da vida que o teriam deixado orgulhoso. Quis a vida que ele abalasse antes que eu lhe pudesse perguntar sobre o futuro. Como acho que me vês pelos olhos do meu gato, eu pergunto na mesma, já as respostas... Deixaste-as em mim.
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