Pelo que tenho sentido e visto à minha volta, parece que terminar uma relação é mais difícil do que fazer uma depilação completa onde se arranca pelo a pelo enquanto alguém segreda: "dói muito, dói?", com um tom irónico. Aparentemente, as relações são infelizes mas tenta-se salvar até às últimas consequências, algo que já está estragado e que cheira pior do que aquela estrada em Sines. E os motivos são muitos: filhos, ter medo de ficar sozinho, ter medo de saltar para o desconhecido, entre outros. Apesar de ser válido, porque o egoísmo e o medo fazem parte da evolução pessoal (done that, been there), por vezes assistimos a casamentos mais afundados que o Titanic, mas que ainda assim lutam para vir à tona.
Creio que isto tem uma génese e um dos factores está relacionado com as histórias fantasiosas da infância. O problema dos contos de fadas é que, para as raparigas, mesmo que o carro se transforme numa abóbora, vamos ser felizes para sempre, e na vida real isto não é assim. A abóbora já se arrasta desmaiada e tem um ar mais cadavérico e assustador do que as abóboras do Halloween. A expectativa é sempre a de que a coisa um dia vai resultar, e insiste-se até à última gota. E no fim temos relações inexistentes: apenas duas pessoas que dividem (eventualmente) o mesmo espaço e o mesmo ódio um pelo o outro. Alguns homens, por seu lado, pulam de casa em casa à procura do tal pé especial para o sapatinho. Muitos, quando o sapato cabe questionam: e se crescer um joanete? Depois o sapato já não cabe...
Não creio que a solução seja "separem-se e vivam felizes para todo o sempre". O segredo está mesmo no processo: eu fico preso nas relações e não consigo sair? Perdi a minha individualidade? E a cereja no topo da abóbora: sou feliz? Não me refiro ao feliz-a-toda-a-hora (isso não existe, lamento desapontá-los), mas ao feliz nas coisas simples, ao feliz de coração cheio e com a barriga a sorrir. E é entre o decidir ir ou ficar que vamos crescendo e nos conhecendo melhor. Digo eu.
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