segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Paciências

Entro na conservatória. Preciso de levantar um documento que pedi na semana passada. Tiro a senha respectiva, sento-me e vejo que, apesar de ser a próxima para levantamento de documentos, existem algumas pessoas a pedir documentos. Só estão dois guichets a funcionar. Suspiro e penso "parece que vai ser mais demorado levar o documento do que pedi-lo...".

Uma senhora está a fazer o cartão do cidadão. Fala lentamente. A senhora da conservatória pede-lhe a morada. A senhora do cartão diz calmamente "mas eu tenho duas casas". A resposta é pronta e ainda assim paciente e simpática: "Mas a senhora é que tem de me dizer qual é a morada que quer. Olhe que é a morada que fica nas finanças, na Segurança Social...". A senhora do cartão dá um código postal, optando por uma das casas. Ainda preocupada, a senhora da conservatória pergunta-lhe qual é a morada na carta de condução indicando: "Olhe que tem de ter a mesma morada na carta e no cartão do cidadão, senão, se é mandada parar é multada, porque a morada tem de coincidir!". A senhora do cartão responde um prolongado "o que é que acha". "Você é que sabe, não posso dizer qual deve ser", responde, ainda com paciência, a senhora da conservatória. A senhora do cartão opta pela morada da carta de condução. E assim avança o processo.

Eu vou assistindo calmamente, penso que tenho tempo, apesar de nunca gostar de esperar, sem nada para fazer. Começo a observar os restantes cidadãos que esperam. São três. Um casal com senhas e uma senhora com hora marcada. Começam a ficar impacientes. O casal muda de lugar e a senhora de hora marcada vai balançando a perninha enquanto reúne os seus documentos e se perde a olhar para a sua carta de condução. Talvez a fotografia fosse antiga. Não sei, não consigo ver, estou mais afastada mas consigo ver o desenrolar da história.

A seguir vem a máquina esquisita: "Agora vai se levantar, vai ali para aquela máquina e olha em frente." - explica a senhora da conservatória com aquela voz de quem diz a mesma frase várias vezes ao dia. A fotografia corre bem. De seguida é pedido à senhora do cartão que coloque os dedos indicadores na máquina esquisita. Calmamente a senhora diz que não está a funcionar. A senhora da conservatória lá se levanta do seu lugar imaculado e ajuda no processo. Não percebi o que terá acontecido, se a senhora do cartão não carregou bem ou se houve algum problema informático.

Agora estamos na recta final, o casal e a senhora da hora marcada trocam olhares e risos sobre a senhora do cartão. Afinal de contas está a demorar. Leio naqueles risos a paciência sem compaixão, de quem diz "remédio esperar, mas esta senhora é muito tonta!"

Eu observo. E agora passamos para a parte em que a senhora tem de assinar na máquina esquisita para que possa digitalizar a sua assinatura. Ela demora. Volta da máquina esquisita e senta-se novamente em frente à senhora da conservatória. A senhora do cartão diz, mal se senta:"Sabe, é que eu tenho dificuldade em assinar, tive um AVC há pouco tempo..."

E agora é a minha vez de ser atendida. Com mais compaixão.

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