segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Metro


Esta é uma estação de metro abandonada em Nova Iorque. Chama-se City Hall e não é utilizada desde 1945. Confesso que tenho um especial interesse por espaços que parecem fragmentos de uma época passada, como se estivessemos a olhar para uma fotografia, um stand-still. Adoro ver imagens de espaços num tempo antigo, surgem intocáveis, imagino quem os viu, quem passou por lá.


O cenário já o têm, imaginem a história: anos quarenta, uma cidade que fervilha; um homem a ler o jornal, à espera do metro; à sua frente uma elegante mulher que deixa cair o seu lenço. O homem apanha-o e dá-lhe. Que enredo, que conversa poderiam ter? Como brilhariam os seus olhos? Seria o início de algo? Ou então não, ela agradece, timidamente, e afasta-se, entrando no metro e perdendo-o de vista para sempre...



Fonte: http://www.theguardian.com/cities/2014/sep/25/-sp-world-subterranean-ghost-stations-tube-abandoned-underground?CMP=fb_gu
Fotografia: Michael Freeman/AP 
Imagem: http://nyulocal.com/city/2014/03/10/take-a-ride-through-the-abandoned-city-hall-subway-station/

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Aceitar vs desistir

No último post referi que por vezes perdemos a perspectiva, a visão certa das coisas. E de facto, mal ou bem, estou com um terçolho. Nada como ter o nosso corpo a gritar connosco, não é? Isto de escrever estas coisas às vezes é como ser costureira. Fazes mil luvas e não te apercebes que afinal a maior parte servem-te, lá está, que nem uma luva.


Mas é também importante, neste campo das perspectivas, perceber que existe uma enorme diferença entre o desistir e o aceitar. Todos temos as nossas neuroses, os nossos problemas, ou obstáculos à nossa evolução para pessoas melhores. Sempre defendi que não chegamos a Buda, isso são outras caminhadas, e por isso, por mais evolução que possamos fazer, existem obstáculos que podem não ser ultrapassáveis. E isso não faz mal. Precisamente porque somos humanos. Estamos aqui para caminhar, melhorar, tentar lavar a roupa que era branca e ficou escura, mas nunca voltará a irradiar aquele branco brilhante, da evolução plena e completa. E isso não faz mal.

Lidar positivamente com os obstáculos que vão permanecer até ao final da nossa vida é aceitar. É deixar que uma roupa meio creme nos sirva como se fosse o melhor fato do mundo, porque é nosso. Permitir que se mantenha uma nódoa aqui e ali, porque é o resultado da nossa vivência, da nossa luta. E permitir que uma ou outra nódoa permaneça, não é desistir. É apenas aceitar que poderá lá ficar para sempre. Pode diminuir de tamanho, pode até ser atenuada na sua cor, mas se ficar, nós aceitamos. E isso não faz mal, porque isso não é desistir.

Tudo isto pode ser uma grande descoberta, mas leva o seu tempo a se instalar. Já sabemos que é fácil costurar as luvas, o problema é enfiá-las nas mãos e perceber que nos servem e como isso afecta o resto do vestuário. E se demorar, também não faz mal. É para isso que aqui andamos.

Imagem: http://boasnoticias.pt/noticias_Portugal-desenvolve-luva-biodegrad%C3%A1vel_57.html

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Esperar pelo universo

Li um texto que me fez pensar. Começa por perguntar, com trejeitos de impaciência (e nós terapeutas, já ouvimos isto em algum lado, e também já nos questionámos): "porque é que isto não anda mais depressa? Estou farta de esperar!"

Pois bem, o que acontece é que o universo tem um plano melhor. Um que é melhor do que aquele que temos. Seja qual for a nossa referência: Deus, o Universo, a essência, não importa. O que importa é que, de tempos a tempos, nós perdemos perspectiva. Queremos dar ordens ao universo sobre quando e como queremos que as coisas se manifestem nas nossas vidas. Vivemos na era do imediato. E se queremos algo, podemos tê-lo, de forma quase instantânea. Estamos cada vez mais habituados a ter um controlo quase absoluto das nossas vidas, e assim sendo, começámos a acreditar que o universo deveria de trabalhar de acordo com a nossa agenda.

Falta-nos humildade. É necessário plantar as sementes dos nossos desejos num solo fértil e saber esperar pelo universo. É ele que faz a sua magia, mas a seu tempo. Temos de respeitar que provavelmente apenas conseguimos controlar cerca de metade dos nossos planos, por mais que possamos regar essas sementes, o seu brotar depende de muito mais do que a nossa boa vontade. E existem bons motivos para que existe uma parte que não controlamos e que está fora das nossas mãos

Várias áreas defendem algumas lições espirituais, ou ensinamentos pelos quais devemos passar para criar uma consciência mais elevada. Mas estas lições, estas "aulas"não vão acontecer de acordo com o nosso calendário e muito menos quando queremos muito que elas surjam ou até que vão embora. A questão não reside no universo a dar-nos o que nós queremos,quando nós queremos. É sobre o universo a ensinar-nos a ser quem nós somos. A ajudar-nos a recuperar o conhecimento sobre quem nós realmente somos: poderosos, inteiros, abundantes, suficientes... Nós até pensamos que temos inúmeros problemas, mas o único e real problema que temos é a forma como estamos desconectados da nossa fonte, da nossa essência. Ocasionalmente, o universo irá chamar-nos a atenção, e não da melhor forma, embora não seja como um castigo, mas sim para nos mostrar um caminho melhor. Nestes momentos não estamos a ser castigados, mas sim iluminados, e esta é a forma do universo nos ensinar que nós temos tudo aquilo que precisamos. A nossa função é estar disponíveis, abertos e pacientes. E saber que as respostas para as nossas questões podem não surgir da forma convencional que esperávamos. Temos de confiar que a vida se está a desenrolar a um ritmo que vai de encontro ao nosso melhor e maior desenvolvimento.

Podemos controlar aquilo que é possível e deixar o resto para o universo. Se a vida não se desenrolar como e quando queremos, o melhor é sorrir. O universo estará a trabalhar para nos mostrar um caminho melhor. Assim sendo, enquanto esperamos, o melhor será viver com gratidão, paciência e humildade. Podemos sempre repetir para nós próprios: eu acredito que me será dado tudo aquilo que eu preciso e por caminhos que eu não consigo imaginar.


Texto original: http://www.mindbodygreen.com/0-10348/be-where-you-are-not-where-you-think-you-should-be.html

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

De pequenino se torce o destino


Já dizia o grande Sérgio Godinho: "De pequenino, de muito pequenino, se torce o destino". O destino, ou o lugar para onde nos dirigimos é uma incógnita. Há quem diga que já vem fadado e há quem advogue o livre-arbítrio dos próximos passos. Haverá um meio termo? Poderá ser a verdade sobre o futuro, um casamento entre o que está predestinado e o que está nas nossas mãos? Como uma novela ou uma série: há a estrutura, as personagens pré-estabelecidas, e depois, a cada episódio vão se criando novas circunstâncias. E essas novas circunstâncias seriam trazidas por nós ao nosso enredo. Seria um cozinhado de hipóteses e faz-me mais sentido do que um dos lados da barricada.

E agora pensei: será que quem acredita firmemente que estamos predestinados, ou seja, que alguém  terá escrito a nossa vida ao pormenor (ou nós mesmos antes de aterrarmos aqui), tem apenas medo da espontaneidade? De arriscar? Sair da linha recta, traçada mas invisível? Aliás, será esse o nosso grande movimento enquanto vivemos, sair da caixa, evoluir, ultrapassar neuroses? Quanto mais penso nisso mais acho que o estar predestinado é algo neurótico, mas maybe it's just me. Se for exagerado e se a pessoa se deixa levar pelas ondas do destino, então é mesmo algo a roçar o paranóide. Estou a falar de exageros, de achar que não se podem tomar decisões, que o tempo decide por nós e coisas dessas. Acredito piamente nas decisões do tempo, mas em alguns casos e principalmente para evitar tomar más decisões num presente envenenado.

E o resto da canção reza assim:

Primeiro sem saber porquê
e depois com um quê
de quem já sabe de saber mudar
de quem já sabe de saber fazer
uma outra terra no mesmo lugar
um lugar feito para a gente viver
e mesmo que seja longo
mesmo que vá demorar 


Imagem: https://www.pinterest.com/pin/184225440982340812/

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Upgrade, versão 2.0

Cá estamos em Setembro. Este mês sempre foi para mim o Janeiro. Não, não como passas de 31 de Agosto para 1 de Setembro, mas este mês tem algo de especial. Se calhar ainda está ligado ao cheiro do Outono a chegar, enquanto seguia a pé para a escola. A novidade, os livros novos, os colegas de sempre... Aquele cheiro da terra molhada quando caem as primeiras chuvas, o cheiro dos livros novos...

Setembro é o meu ano novo, altura de fazer um upgrade e ver o que posso levar de bom nesta transição. E perceber o que tenho de deixar para trás, por muito que custe. Com um filho tão pequeno, é muito difícil de fazer este exercício sem interrupções. Convenhamos, a nossa individualidade está reduzida ao tempo em tomamos banho pela manhã (num espantoso recorde de 5.3 minutos, não vá o miúdo acordar) e aos momentos de refeição. E esta é uma novidade que eu trago para o ano novo: ao contrário do que muitos dizem, a minha vida não acabou, mas alterou-se de forma significativa, como seria de esperar. Nesta altura de contemplação, quando o bebé é mesmo muito bebé, as suas reclamações e pedidos trazem-nos para o agora e para uma divisão da nossa pessoa. Estamos connosco, mas também estamos com o nosso filho, e estamos com mil coisas na cabeça, a viajar a 100 à hora. Mas isto da maternidade não é preto e branco como me venderam. Existem muitas áreas cinzentas, e claro, muita cor.

É como se existissem dois lados da barricada: os que defendem o branco e que dizem que é tudo lindo e espectacular, e os que vêm o mundo a preto: a vida acabou. A vida não acabou, mas a vida como eu a conhecia sim, e isso não é necessariamente mau, no entanto, como em qualquer transição, é difícil entrar no ritmo e aceitar que tudo mudou, fazendo o luto apropriado daquilo que era antes e que não volta a ser. Meus caros: é difícil. Mas há alguma coisa que dê calos, que desague em amor eterno ou que seja tão forte que não comece por ser difícil? Posso até acordar com dificuldade, maldizendo a amamentação e todos os que falam dela como se fosse a resolução para todos os males do mundo, mas depois vejo o meu filho a sorrir e derreto. E não há como explicar melhor do que com essa imagem.

Portanto, eu entro no novo ano sem desejos, mas com muitas vontades, embora com menos energia. Mas tudo passa, tudo se alcança. E o que eu tenho aprendido mais é que ser paciente compensa.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Ouvi na mesa ao lado

Neste caso foi o meu marido que ouviu, mas eu acho que, se juntámos os trapinhos, também podemos juntar os ouvidos!

"Isso é tudo uma grande falância!"

Pela conversa, o tipo queria dizer falácia... Meninos, não tentem dizer palavras caras sem treinar primeiro em casa e ao espelho!

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Ouvi na mesa ao lado

Estava um dia a almoçar e oiço o seguinte, na mesa ao lado:

- No outro dia experimentei foi um arpeggio de bacalhau, aquilo é bom, mas tá crú, né?

Juro. Não foi ninguém que me contou. É nisto que dá querer ser hispter e moderno: misturar o nespresso com carpaccio...

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Super-poderes

Às vezes penso nos super-poderes que gostaria de ter. Quem é que nunca pensou nisso? Desde pequenos que somos banhados com super-heróis que nos fazem sonhar, e não é só porque salvam o dia ou a garota gira. Eles voam, ficam transparentes, disparam lanças com os olhos e até há herói que faz o tempo andar para trás ao voar à volta do planeta na direcção oposta para evitar a morte da sua amada (cena clássica do Super Homem).

A pergunta na cabeça de todos nós: e se tivéssemos super-poderes? A pergunta globalizante da minha cabeça: usaríamos para o bem? Ou para o mal, qual trolls da internet que aproveitam o super-poder da distância e anonimato para vilipendiar a desgraça alheia?

Para mim, à grande questão - que super-poder gostaria eu de ter - eu sei responder, principalmente quando acabo de me sentar e lembro-me que me falta qualquer coisa e oopps...! Lá está ela em cima da mesa a 1 metro de distância e inalcansável ao esticar o braço (mas tentamos sempre esticar não vá haver um super-poder tipo mulher elástico). E eu penso: que bom que era esticar o braço, abrir a mão e zuca, o objecto vinha pelo ar até à minha mão, ahh, a mulher íman, era esse o meu super-poder! Não salvaria o dia, mas salvaria a minha preguiça, essa sim, seria eterna!

Imagem: http://www.legal.adv.br/category/comics/page/2/

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Ode ao Esfíncter


Rua acima, rua abaixo, lá ia ele, num pernacho.
Escada abaixo, escada a cima, lá ia ele, esse borracho.
Quis um dia esfíncter ser, e da borra se fez café.
Eram horas, eram dias, e lá ia ele, muito em pé.
Caminhava estreito e escorreito, nessa estrada que era a vida,
Rua acima ele ia, com a voz quase tremida.
Dizia que era pobre, mas a gente da terra não liga,
Se era um bom esfíncter, era tudo o que comia!

Dedicado a duas monstras muito especiais. 

Esfíncter, s. m.
Nome genérico dos músculos circulares que fecham as cavidades a que correspondem  (ex.º esfíncter da bexiga, da boca, entre outros). 
in Priberam