sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Aceitar vs desistir

No último post referi que por vezes perdemos a perspectiva, a visão certa das coisas. E de facto, mal ou bem, estou com um terçolho. Nada como ter o nosso corpo a gritar connosco, não é? Isto de escrever estas coisas às vezes é como ser costureira. Fazes mil luvas e não te apercebes que afinal a maior parte servem-te, lá está, que nem uma luva.


Mas é também importante, neste campo das perspectivas, perceber que existe uma enorme diferença entre o desistir e o aceitar. Todos temos as nossas neuroses, os nossos problemas, ou obstáculos à nossa evolução para pessoas melhores. Sempre defendi que não chegamos a Buda, isso são outras caminhadas, e por isso, por mais evolução que possamos fazer, existem obstáculos que podem não ser ultrapassáveis. E isso não faz mal. Precisamente porque somos humanos. Estamos aqui para caminhar, melhorar, tentar lavar a roupa que era branca e ficou escura, mas nunca voltará a irradiar aquele branco brilhante, da evolução plena e completa. E isso não faz mal.

Lidar positivamente com os obstáculos que vão permanecer até ao final da nossa vida é aceitar. É deixar que uma roupa meio creme nos sirva como se fosse o melhor fato do mundo, porque é nosso. Permitir que se mantenha uma nódoa aqui e ali, porque é o resultado da nossa vivência, da nossa luta. E permitir que uma ou outra nódoa permaneça, não é desistir. É apenas aceitar que poderá lá ficar para sempre. Pode diminuir de tamanho, pode até ser atenuada na sua cor, mas se ficar, nós aceitamos. E isso não faz mal, porque isso não é desistir.

Tudo isto pode ser uma grande descoberta, mas leva o seu tempo a se instalar. Já sabemos que é fácil costurar as luvas, o problema é enfiá-las nas mãos e perceber que nos servem e como isso afecta o resto do vestuário. E se demorar, também não faz mal. É para isso que aqui andamos.

Imagem: http://boasnoticias.pt/noticias_Portugal-desenvolve-luva-biodegrad%C3%A1vel_57.html

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