Cupido (ou Eros) é filho da Deusa do Amor, Afrodite (ou Vénus), e do Deus da Guerra, Marte (ou Ares). Não é de admirar, por isso, que ele tente atingir os outros de amor, mas com setas. É a clara idealização do casamento entre o amor e a guerra. E em ambos os campos há quem diga que vale tudo. É uma criança com asas, personificando aquilo que de infantil (mas no bom sentido) tem o amor. E aqui esta infantilidade é sinónimo de pureza, inocência e de uma transparência doce na qual não existem ainda máscaras. A palavra infantilidade dotou-se de um mau significado quando na realidade deveria ser um bom presságio. Podemos substitui-la, nesse sentido, por imaturidade, e deixamos o que é infantil para aquilo que é espontâneo e bom.
Mas voltando ao cupido que se enamorou de Psique, a Deusa da Alma: o filho do amor e da guerra num affair com a alma. Delicioso. E deste romance nasceu a Deusa do Prazer: Hedone. Não foi um romance fácil, como não o são os romances de contos de fada.
Era uma vez.... O mito de Psique
O mito narrado por Apuleio conta como uma bela mortal por quem Eros, o Deus do Amor, se apaixonou. Tão bela que despertou a fúria de Afrodite (Vénus), sua mãe
- pois os homens deixavam de frequentar seus templos para adorar uma simples mortal. A deusa mandou seu filho atingir Psiquê com suas flechas, fazendo-a
se apaixonar pelo ser mais monstruoso que existisse. Mas, ao contrário do
esperado, Eros acaba por se apaixonando pela mortal, sendo que se acredita que tenha
sido espetado acidentalmente por uma de suas próprias setas.
Com o próprio deus do Amor apaixonado por ela, as suas setas não foram
lançadas para ninguém. O tempo passava, e Psique não gostara de ninguém, e
nenhum de seus admiradores tornara-se seu pretendente. O rei, pai de
Psiquê, preocupado com o facto de já ter casado
duas de suas filhas, que nem de longe eram tão belas como Psique, quis
saber a razão pela qual esta não conseguia encontrar um noivo. Consulta
então o Oráculo de Apolo, que prevê, induzido por Eros (Cupido), ser o destino de sua filha casar com uma entidade monstruosa.
Após muito pranto, mas sem ousar contrariar a vontade de Apolo, a jovem Psiquê foi levada ao alto de um rochedo e deixada à própria sorte, até adormecer e ser conduzida pelo vento Zéfiro a um palácio magnifico, que daquele dia em diante seria seu. Ao chegar lá, a linda princesa não encontrou ninguém, mas tudo era
sumptuoso e, quando sentiu fome, um lauto banquete estava servido. À
noite, uma voz suave a chamava e, levada por Eros, se entregou a ele e
conheceu as delícias do Amor, nas mãos do próprio deus do amor.
Os dias se passavam, e ela
acreditava estar casada com um monstro, pois Eros não lhe aparecia e,
quando estavam juntos, ficava invisível. Ele não podia revelar sua
identidade pois, assim, sua mãe descobriria que não cumprira suas ordens
- e apesar disto, Psique amava o esposo, que a fizera prometer-lhe
jamais tentaria descobrir seu rosto.
Psique sendo resgatada por Eros, William Bouguereau, "L'enlèvement de Psyché"
Passado um tempo, a bela jovem sentiu saudade de suas irmãs e
implo
rou ao marido que permitisse que elas fossem trazidas a seu
encontro. Eros resistiu e, perante a sua insistência, advertiu-a para a alma
invejosa das mulheres. As duas irmãs foram, enfim, levadas. A princípio
mostraram-se apiedadas do triste destino da sua irmã, mas vendo-a feliz,
num palácio muito maior e mais luxuoso que o delas, foram sendo tomadas
pela inveja. Constataram, então, que a irmã nunca tinha visto a face do
marido. Disseram ter ouvido falar que ela se tinha casado com uma
monstruosa serpente que a estava a alimentar para depois devorá-la. Então sugeriram-lhe que, à noite, quando este adormecesse, pegasse numa lâmpada e uma faca: com uma iluminaria o seu rosto; com a outra, se
fosse mesmo um monstro, o mataria. Psique resistiu os conselhos das
irmãs o quanto pode, mas o efeito das palavras e a curiosidade da jovem
tornaram-se fortes. Pôs em execução o plano que elas lhe tinham dito:
Após perceber que seu marido entregara-se ao sono, levantou-se com uma lâmpada e uma faca, e dirigiu a luz ao rosto de seu esposo, com
intenção de o matar. Quando ela vê o belo jovem de rosto corado e cabelos loiros,
espantada e admirada, desastradamente deixa pingar uma gota de azeite
quente sobre o ombro dele. Eros acorda e o lugar onde caiu o óleo
fervente de imediato se transforma numa chaga: o Amor está ferido. Percebendo que fora traído, Eros enlouquece, e foge, gritando repetidamente:
O amor não sobrevive sem confiança!
Psique fica sozinha, desesperada com seu erro, no imenso palácio. Precisa de reconquistar o Amor perdido.
Eros voa pela janela e Psique tenta segui-lo, mas cai da janela e fica
desmaiada no chão enquanto o castelo desaparece. Psique volta para a casa
dos pais, onde reencontra as irmãs que fingem piedade para com a irmã.
Acreditam que o lindo Eros, solteiro, as aceitaria e seguem em direcção
ao belo palácio. Chamam por Zéfiro e, acreditando estar seguras pelo
mordomo invisível, se jogam e caem no precipício.
Psiquê caminha noite e dia, sem repouso nem alimentação à procura do Amor. Avista um
belo templo no cume de uma montanha e acreditando encontrar o seu amor
escalou a montanha. Ao chegar no topo depara-se com montões de trigo,
centeio, cevada e ferramentas, todas misturadas e ela os separa e
organiza. O templo pertencia a deusa Deméter
que, grata pelo favor da bela princesa lhe diz o que fazer para reconquistar o
marido. Primeiro ela precisaria conseguir o perdão da sogra.
Psique, desesperada, resolve consultar um
templo de Afrodite. A deusa, já sabia que tinha sido enganada e,
mantendo Eros sob seus cuidados, decide impôr à pobre alma uma série de
tarefas, esperando que desistisse ou que o desgaste pudesse fazê-la perder a beleza. Foram lhe incumbidos 4 trabalhos:
- OS GRÃOS: A princesa foi colocada num quarto onde uma montanha de
grãos de diversos tipos tinha sido misturada. Psique devia separá-los,
conforme cada espécie, no espaço de uma noite. A jovem começou a
trabalhar, mas, mal fizera alguns montículos e adormece extenuada.
Durante seu sono, surgem milhares de formigas que, grão a grão, os
separam do monte e os reúnem consoante sua categoria. Ao acordar, Psique
constata que a tarefa fora cumprida dentro do prazo.
- A LÃ DE OURO: Afrodite pediu, então, que Psique lhe trouxesse a lã
de ouro do velocino de ouro. Após longa jornada, Psiquê encontra os
ferozes animais, que não deixavam que deles se aproximassem. Uma voz
surge de juncos num rio e a aconselha: ela deve procurar um espinheiro,
junto a onde os carneiros vão beber, e nas pontas dos espículos recolher
toda a lã que ficara presa. Psiquê realiza a
tarefa, enfurecendo a deusa.
- ÁGUA DA NASCENTE: Afrodite então lhe pede um pouco da suja água da nascente do Rio Estige.
Mas a nova tarefa logo se revela impossível: o Estige nascia de uma
alta montanha tão íngreme, que era impossível escalar. Levando um frasco
numa das mãos, a princesa cai na escarpa que se erguia à sua
frente Mas as águias de Zeus surgem e, tomando-lhe o frasco, voam com
ela até o alto, enchendo-o. O trabalho foi, mais uma vez, realizado.
- BELEZA DE PERSÉFONE: Afrodite percebeu que teria de usar de meios
mais poderosos. Inventando que tinha perdido um pouco de sua beleza por
cuidar do ferimento de Eros, pede a Psique que, no Reino dos Mortos (o
País de Hades), pedisse à sua
rainha, Perséfone,
um pouco de sua beleza. A deusa estava certa de que ela não voltaria
viva. Mais uma vez, Afrodite se engana. Psique convence Perséfone a
encher uma caixa com a sua beleza para Afrodite. A regressar, Psique pensa que sua beleza se tinha desgastado depois
de tantos trabalhos e não resiste: resolve abrir a caixa e cai em sono
profundo, Eros, já curado da sua queimadura vai ao socorro de sua
amada, põe de volta o conteúdo na caixa, desperta Psique e
ordena-lhe que entregue a caixa à mãe dele.
Enquanto Psique entrega a caixa a Afrodite, Eros vai a Zeus e suplica que advogue em sua causa. Zeus concede esse pedido e posteriormente consegue a concordância de Afrodite. Hermes
leva Psique à Assembleia celestial e ela é tornada imortal. Finalmente,
Psique ficou unida a Eros e mais tarde tiveram uma filha, cujo nome foi
Prazer.
...E viveram felizes para sempre...
Adaptado de Wikipedia